domingo, 24 de maio de 2009

PENTECOSTES

PENTECOSTES

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

As maravilhas que o Espírito Santo operaria para os seguidores de Cristo estão compendiadas nestas palavras do Mestre divino: “Aquele que crê em mim, conforme diz a Escritura, rios de água viva jorrarão do seu interior” (Jo 7,38). São João decodificou muito bem estes dizeres: “Jesus falava do Espírito que deviam receber os que tivessem fé nele” (v. 39). A vinda da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade seria a derradeira irrupção de Deus na história humana. Cumpre, de plano, refletir que há uma afinidade entre o ser pensante e o Espírito de Deus. Com efeito, o homem e a mulher possuem uma alma espiritual que informa um corpo material. Portanto, nos seres humanos o espírito não é uma abstração. Cada um tem em si um princípio imaterial, embora esteja imerso num mundo material. Nem sempre se para refletir nesta realidade que são as idéias que se têm na mente. Tais idéias, abstraídas das coisas sensíveis, são universais e não ocupam lugar. Assim, por exemplo, quando alguém pensa na fortaleza, na prudência não é capaz de dizer que tamanho, que cor possuem estas virtudes. O mesmo se dá quando se fala no mar, nos rios, nas flores, inúmeras imagens surgem de coisas e que, no momento, não estão diante de quem ouve tais palavras. Tudo isto mostra a presença do espírito em cada um através da inteligência que é uma das faculdades da alma. Além disto, pela vontade se realizam atividades maravilhosas que supõem energia, coragem, determinação, visando, conscientemente, um determinado fim. Deste modo, o espírito no ser humano não é uma abstração fria, indiferente, inacessível, mas é o que há de mais íntimo em cada um, de mais expressivo, de mais comunicativo. É um fogo que torna cada um capaz de amar e ser amado. Por tudo isto, se pode ter uma representação daquele que se chama nas Escrituras Espírito Santo. Estas palavras não foram escolhidas ao acaso e sem fundamento, dado que o homem e a mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus. Com estas suas criaturas Ele quis estabelecer uma aliança e lhes oferece uma comunhão para uma vida feliz. Isto Ele opera pelo seu Espírito. Por Ele envolve suas criaturas espirituais numa luz inefável e nas mais diversas línguas, através dos tempos, lhes rediz o que Jesus havia ensinado em sua língua materna. Isto somente o Espírito Santo o poderia fazer. Daí a unidade profunda entre todos os membros do Corpo Místico de Cristo, objetos das ricas promessas de uma eternidade venturosa, o que também só o Espírito Santo realizaria, fazendo correr água viva a jorrar de dentro dos corações que Lhe pertencem. Através da atuação do Espírito Santo nas almas se multiplicariam carismas, dons, frutos os mais diversos, numa sinfonia admirável executada pelos batizados que vivem em plenitude sua união com este Espírito, recebido no Batismo e na Crisma. Articular tudo isto no horizonte universal da humanidade apenas o Espírito Santo conseguiria fazer. Este Espírito Santo vem a cada um não inspirando um terror sagrado como acontece com os poderosos deste mundo para submeter os outros a seu talante. Pelo contrário, Ele chega como uma suave brisa, conduzindo a uma santidade sem fronteiras, cujo lema é o serviço à divindade e ao próximo. Ele é o Espírito consolador, reconfortador dos que sofrem tristeza, amargura, abandono, repúdio, pois Ele é defensor e advogado que conhece cada um melhor do que cada um se conhece a si mesmo. Por isto, é capaz de tirar sempre o ser humano da baixa estima e fazer ver as inúmeras qualidades que há na existência de todo homem ou mulher. Ele é o dom por excelência e pode tudo perdoar, quando há a fraqueza humana. Ele tudo santifica e, nem sempre, se lembra que nas Missas há duas epícleses: uma primeira epíclese que é a invocação do Espírito Santo sobre as oferendas de pão e vinho para que se transubstanciem no Corpo e Sangue de Cristo. Acontece, após a consagração, uma segunda epíclese na Oração Eucarística. Trata-se de uma nova invocação do Espírito Santo agora para que todos os participantes daquele ato litúrgico, pela ação deste Espírito divino, sejam transformados numa única assembléia, sem divisões, com os mesmos sentimentos de Cristo, todos unidos num só coração e numa só alma. É preciso, por tudo isto, viver em função do Espírito Santo que espiritualiza o corpo não por uma espiritualização ilusória, mas transformando cada cristão em Filhos de Deus, herdeiros do Reino, co-herdeiros do Ressuscitado. *Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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