domingo, 17 de maio de 2009

Mensagem da Ascensão

MENSAGEM DA ASCENSÃO

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A palavra ascensão originada do latim significa subir, elevar-se. A mensagem é evidente para os evangelistas alimentados pelas Escrituras: Subir aos céus é entrar na glória de Deus, é exprimir visivelmente tudo o que se realizou pela ressurreição de Cristo. Diz São Marcos: “O Senhor Jesus foi levado ao céu e sentou-se a direita de Deus” (Mc 16,19). Lemos que uma nuvem encobriu Jesus, de forma que os olhos dos apóstolos não podiam mais vê-lo à medida que subia para os céus (Atos 1,9). Esta nuvem tem um caráter profundamente simbólico: ela representa a presença divina. A ida do Redentor para junto do Pai foi prefigurada no Antigo Testamento pela passagem referente a Elias que subiu num carro de fogo, o que o fez escapar da morte (2 R 2, 1-19). A Ascensão do Salvador foi sua partida desta vida terrena. Foi a última aparição dele a seus discípulos após sua vitória sobre a morte. Antes de os deixar ele ordena que eles anunciem a Boa nova a todas as nações e lhes promete a vinda do Divino Espírito Santo que lhes dará a fortaleza para cumprir tal nobre missão. Jesus vai para junto do Pai. Ele havia dito aos discípulos: "Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai" (Jo 14,12). Foi o que ele disse também a Madalena: “Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20, 17). Esta verdade está, outrossim, no símbolo dos Apóstolos e no niceno-constantinopolitano. Trata-se de uma imagem que significa que Jesus possui a glória da divindade. Está assentado à direita do Pai, ou seja, Ele possui a plenitude de todo o poder. Jesus foi para o céu por este mesmo poder pessoal, tanto que de Maria se diz que ela foi elevada aos céus. No Corão dos mulçumanos (III,55) está escrito que Jesus foi elevado e não está escrito que ele subiu ao céu, porque para os mulçumanos Jesus não é Deus, mas um simples Profeta. Tudo isto mostra a importância das palavras a serem empregadas no que tange aos mistérios da fé. Adite-se que a Ascensão de Jesus abre os horizontes da esperança que deve inundar os fieis, pois ele voltará, virá do mesmo modo como partiu. Será a gloriosa parusia, ou seja, Seu regresso glorioso no término dos tempos. Até lá, porém, ele cumpre o que prometera aos Apóstolos: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo".(Mt 28,20). Com efeito, ele se foi, mas ficou na Eucaristia, contemporâneo de todas as gerações cristãs. Além disto, Ele está presente em todos os batizados, dado que o cristão é outro Cristo. Alimentados pelo Pão do Céu e sempre vendo Cristo na figura do próximo, raiará o dia do reencontro com Ele para a felicidade perene no céu. Até lá, cumpre que não se esqueça o que disse o Apóstolo Pedro; “Alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua glória" (1Pd 4,13). Cumpre, como ensinou São Paulo, “uma grande constância nas tribulações, nas misérias, nas angústias, nos açoites, nos cárceres, nos tumultos populares, nos trabalhos, nas vigílias, nas privações; pela pureza, pela ciência, pela longanimidade, pela bondade, pelo Espírito Santo, por uma caridade sincera, pela palavra da verdade, pelo poder de Deus; pelas armas da justiça ofensivas e defensivas (2 Cor 6, 5-7). Acrescenta, porém: "Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada" (Rm 8,18). O trabalho de cada hora é já um fardo a ser carregado, visando estar com Cristo por toda a eternidade e os aborrecimentos imprevisíveis que surgem, além da luta contra a doença, são outras tantas cruzes a serem transportadas com fé, com ânimo e sem esmorecimento. Tal a doutrina de São Paulo que asseverou: “Gloriamo-nos até das tribulações, pois sabemos que a tribulação produz a paciência, a paciência prova a fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana (Rm 5,3-5). Paulo e Barnabé, em Listra, Icônio e Antioquia (da Pisídia), confirmavam as almas dos discípulos e exortava-os a perseverar na fé, dizendo que é “necessário entrarmos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações”! (At 14,22). Desse modo, a solenidade da Ascensão, entre tantas lições, lembra o célebre adágio per crucem ad lucem – pela cruz se chega lá onde Cristo está à espera dos que lhe foram fiéis nesta terra. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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