sexta-feira, 8 de maio de 2009

A nobreza do Trabalho

A NOBREZA DO TRABALHO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A vocação do homem para o trabalho é um dos sinais de sua grandeza, um de seus autênticos títulos de nobreza. Ainda antes do pecado original a lei do trabalho existia. Eis o texto da Bíblia: “Tomou, pois, o Senhor Deus o homem e colocou-o no paraíso de delícias para que o cultivasse e guardasse”. O Papa Pio XI com razão afirmou: “o homem foi feito para o trabalho como o pássaro para voar”. Trabalho manual ou intelectual, o mais modesto na aparência ou o mais importante, é uma verdadeira prova de presença de um ser racional, atividade sumamente nobilitante. Este é um conceito introduzido na história pelo cristianismo que lançou uma visão nova sobre o labor humano. Esse é o aprimoramento do homem, ser que se desenvolve sem cessar. Enquanto busca os meios para sustentar sua vida material, conscientemente explora suas potencialidades. Tudo que existe de progresso no mundo, contribuindo para uma marcha ascensional ininterrupta da humanidade, é resultado do trabalho. Esforço admirável que permite à criatura inteligente melhorar sempre suas condições de existência. Manifesta-se assim o valor e a habilidade operativa daquele que se revela então superior aos brutos, os quais podem propor para si um fim a colimar.
Quando se gozam os efeitos da melhoria que a técnica oferece, muitas vezes se esquecem os numerosos trabalhadores anônimos que se entregam a afazeres, por vezes, monótonos e fatigantes, nas usinas, nas fábricas, nas minas, sem os quais não se poderiam usufruir tantas comodidades. Isto mostra que o trabalho tem sempre um ângulo social, que o dignifica e enobrece. Há em cada ação humana um sentido de fraternidade, de solidariedade.
O trabalho é ainda o acabamento da criação. O homem colabora com o Criador. Quer queira ou não, é obreiro de Deus no mundo. Graças aos empenhos da razão, a engenharia propicia o acesso às belezas naturais espalhadas pelo poder divino. Com seu pendor inventivo o homem vai ampliando, dia a dia, o uso das riquezas colocadas à sua disposição nesta terra. Assim, não apenas pode contemplar as maravilhas da natureza, como também afirma sua dominação sobre as coisas, sua realeza terrestre. Ele mobiliza para seu serviço as energias misteriosas do Universo. Triunfa da aridez dos desertos, da força irresistível dos oceanos. Vence o espaço, suprime as distâncias. Opera prodígios no macrocosmos e no microcosmos. Encontra recursos para dulcificar os sofrimentos. Conhece os triunfos da moderna tecnologia. Tudo isto conseqüência de muita faina, de pertinaz luta.
É verdade que o trabalho diário é, muitas vezes, árduo, penoso. Por isto mesmo ele eleva, engrandece. É meio de auto-realização. Além disto, é na medida em que se ama a obrigação cotidiana, vendo nela uma maneira de se transformar, é que a vida tem sentido, proporcionando aquele equilíbrio psíquico que afasta frustração e desvios mentais. Quem se aperfeiçoa através do trabalho, enriquece-se e locupleta o cosmos com renovada bondade. Infeliz é aquele que carrega o pesado fardo de não ter o que fazer. O que se realiza com amor fica leve e suave. Quando se procura gostar do trabalho de cada hora, ele se faz ameno, mesmo que custe sacrifício. É exatamente esta fadiga que renova o homem. Joseph de Finance dá a explicação: “o trabalho implica duração (um esforço, mesmo penoso, de poucos instantes, não é um trabalho) e requer então perseverança... contra a tentação do divertimento e do repouso. É por isto que ele engaja tão profundamente o homem, é por isto que ele é eminentemente formador”. Chenu focaliza também esta faceta da ascese humana: “é produzindo uma obra, subordinando-se a ela, submetendo-se às suas leis próprias que o homem, no trabalho, encontra sua perfeição de homem”.
Feliz aquele que encontra no trabalho diário “uma mistura diversamente dosada de pena e alegria!”. Por tudo isto, o trabalho, no dizer do Papa João Paulo II, “é, de certo modo um componente fixo, tanto da vida social, como do ensino da Igreja”. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008..

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