domingo, 19 de abril de 2009

Testemunhas da ressurreição

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O fato da ressurreição de Jesus, prova definitiva de sua divindade, foi registrada no Novo Testamento através das suas várias aparições a seus seguidores. Antes de sua ascensão ao céu, Cristo, realmente, deu provas de que havia vencido a morte, deixando claro o seu objetivo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,48). Os apóstolos compreenderam perfeitamente a intenção do Redentor e São Lucas registrou como aos seus discípulos “depois de sua paixão, deu-se a ver vivo, com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas do reino de Deus” (At 1,3). Seus epígonos não foram vítimas de ilusões ou de sua imaginação, mas, pelo contrário, foram progressivamente convencidos da realidade da ressurreição de Jesus. Houve necessidade de um trabalho pedagógico por parte de Cristo para que seus corações fossem tomados por uma convicção inabalável e, deste modo, pudessem confirmar o que antes Ele já lhes havia anunciado. Por vezes, pensavam estar diante de um fantasma, tomados de susto ante o Ressuscitado a lhes dizer: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo”! (Lc 24, 39) Tudo patenteia o valor imenso da fé na vitória de Jesus sobre a morte, ressuscitando impassível ao terceiro dia conforme as Escrituras, fato de importância capital para o cristianismo. A ressurreição de Jesus firma a doutrina bíblica de que era necessário que Cristo morresse para que houvesse o perdão dos pecados. Nem sempre se compreende o motivo pelo qual o Pai, que é amor infinito (1Jo 4,8.16), exigiu que seu Filho dileto se sacrificasse pelo gênero humano. No pensar de muitos Ele poderia simplesmente perdoar o pecado de Adão e Eva e todos os demais pecados. O que se esquece é que muitos são os atributos divinos e um deles é sua santidade também sem limites (Sl 99,9;Is 57,15). Santo nas suas obras (Sl 145,17), Ele mesmo havia dito: "Eu sou o Senhor, vosso Deus. Vós vos santificareis e sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11,44). Os anjos em torno do trono de Deus cantam sem cessar: “Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!" (Is 6,3) É dentro desta realidade que se pode perceber que não houve conflito entre o amor e a justiça divina. A santidade incomensurável de Deus manchada pela ofensa dos homens, exigiu uma reparação também sem limites. É a partir da santidade de Deus que a teologia da salvação ganha todo seu significado. A grandeza de uma falta se mede pela dignidade da pessoa ofendida e o pecado humano exigia uma resposta à altura da grandeza do Ser Supremo. Na carta aos Romanos São Paulo desenvolveu estas verdades e mostrou que Deus não fechou os olhos à rebelião contra Ele e a justiça e a misericórdia se encontram em Cristo (Rm 3,22-24). Explicou: “O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus, é a vida eterna em Cristo Jesus Nosso Senhor” (Rm 6,23). Insistia, pois, que “o Messias tinha de sofrer e ressuscitar dos mortos”. A morte e a resssurreição de Jesus é o centro do plano divino para a salvação da humanidade. Eis por que, vencida a morte, o Redentor frisou esta sua vitória com suas aparições antes do retorno para junto do Pai. Deste modo o tempo pascal não é um mero reconforto espiritual, mas um profundo desafio. Não adaptar o cristão sua vida às implicações da Páscoa é um erro fatal. Aí está o motivo pelo qual Paulo conclamava os fiéis: “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus" (Cl 3,1). A ressurreição de Jesus não é simplesmente uma questão de curiosidade histórica, mas um fato de conseqüências enormes para os cristãos. Com efeito, o Filho de Deus “mediante a ressurreição dos mortos” deve ser testemunhado, a fim de submeter à fé no seu nome todos os povos (Rm 1,4). Tal a missão de todo batizado: testemunhar com sua vida a fé no divino Ressuscitado e na sua obra redentora. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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