sexta-feira, 6 de março de 2009

UMA VIDA CONSAGRADA À HISTÓRIA

UMA VIDA CONSAGRADA À HISTÓRIA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
João Camillo de Oliveira Torres faleceu no dia 31 de janeiro de 1973. . Nascido em Itabira era diplomado em Filosofia no Rio de Janeiro.É considerado com justiça um dos maiores historiadores do Brasil. Escreveu quase cinqüenta obras nas quais estudou a fundo a realidade social da vida brasileira, particularmente o período colonial. Teoria Geral de História foi resultado de cerca de vinte anos de meditação e pesquisa, é a primeira interpretação da História à luz da visão cristã do mundo realizada no Brasil. Eis como situa o Cristianismo no contexto histórico: “Projetando uma luz nova sobre o valor da humanidade e sobre o significado da natureza humana, criando, por assim dizer, uma atmosfera espiritual toda nova, o Cristianismo realizou, graças a posição que os Evangelhos e o posterior desenvolvimento teológico acerca do “dogma marial” atribuiu à Virgem no processo da Redenção uma transmutação de valores das mais revolucionárias de todos os tempos”. Sobre o movimento de participação dos leigos na vida de apostolado mais atuante, manifesta-se com entusiasmo: “Ora, é perfeitamente compreensível que, se este processo tiver prosseguimento, o fato, rapidamente, produzirá uma alteração substancial na vida social com resultados deveras surpreendentes, isto é, uma sociedade em que todas as atividades sejam naturalmente impregnadas de espírito religioso sem aquele caráter “oficial” da religião de Estado como se instituiu posteriormente na Idade Média”. Seu espírito religioso se patenteia de uma maneira clara no final do capítulo em que analisa “A prece e a História”: “As batalhas são travadas pelos soldados, mas são ganhas pela prece das pessoas que efetivamente valem do altar de Deus. E estas, não nos compete, a nós historiadores, que somente vemos a superfície das coisas, adivinhar-lhes os nomes, que nunca foram escritos nem na pedra, nem no bronze, nem ao menos no papel! Muito menos no ouro”. Era um admirador profundo do Império e suas instituições. Por isto, se expressou sobre esta era da história pátria com entusiasmo e justeza, ressaltando ter sido um período longo, mas caracterizado pela estabilidade e continuidade administrativa, durante o qual houve o aperfeiçoamento das instituições. Sua obra A Democracia Coroada estuda a política imperial e as originais experiências dos Conselheiros de então. Soube dar realce à questão do Poder Moderador de tanto interesse para a teoria da política em geral. Em Estudos Sociais Brasileiros traça com rara felicidade o perfil de D. Pedro II e afirma: “O mundo inteiro admirava este modelo de Chefe de Estado, patriota, austero, simples, bom e culto que foi o senhor D. Pedro II, que a história consagra como o maior dos brasileiros, cujos erros são explicáveis e cuja vida foi um constante sacrifício pelo bem do Brasil”.História das idéias religiosas no Brasil é outra obra do Prof. João Camillo a qual sintetiza a imagem que tinha da cultura brasileira: “A visão otimista da realidade, própria de um povo que absolutamente não reconhece o “sentido trágico da vida” e que, cordial e jovialmente, prefere considerar o lado cômico das coisas e que tende a explicar e desculpar o mal ao invés de o castigar, a interpretação Cristocêntrica do universo e da História, a consideração da presença violenta do ser singular e das situações, o nominalismo e o voluntarismo, eis os tópicos da visão brasileira da Realidade natural e sobrenatural e que encontram em Duns Escoto e Teilhard de Chardin a justificação teórica, ora com apoio de ambos, ora de um deles mas sempre com apoio de algum”. O pensamento do Prof. João Camillo poderá continuar provocando controvérsias e úteis debates, mas é certo, e todos o reconhecem, que ele sempre colocou o amor à Verdade como o farol de todos os seus estudos.* Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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