terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O perdão dos pecados

O PERDÃO DOS PECADOS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Em nossos dias sofre menoscabo o sacramento da Penitência, da qual faz parte integrante a confissão das rebeldias contra Deus. É abrir a Bíblia e lá verificar que Cristo perdoou pecados. A cena do paralítico é típica (Mc 2,1-12) . Por ser grande a aglomeração em torno dele, descem pelo texto alguém retido no leito por não andar. Querem a cura daquele homem. Jesus serve-se da oportunidade para mostrar que lhe compete anistiar pecados, prerrogativa que, mais tarde transmitiria aos Apóstolos. Diz então ao doente: “Teus pecados são-te perdoados”. Os circunstantes ficaram atônitos, pois logo pensaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus”? Era o que o Mestre esperava, pois indagou: “Por que pensais mal em vossos corações?” Imediatamente acrescentou: “Que coisa é mais fácil dizer: São-te perdoados os pecados, ou dizer: levanta-te e caminha? Pois para que saibais que o Filho do Homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados: Levanta-te, disse então ao paralítico, toma o teu leito e vai para sua casa. E ele levantou-se e foi para sua casa”. Jesus agraciou a Madalena, a mulher adúltera, a Zaqueu e a tantos outros com um indulto total, detentor que era de uma autoridade deífica. Após a ressurreição, portanto, provado mais uma vez que era Deus, ele confere a sublime atribuição aos onze: “Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e aqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23). Magnífico presente pascal! Ao entregá-lo são muito claras as palavras do Redentor. Entretanto, é apenas para quem tem fé é que há o aspecto eclesiológico do pecado, assim como a faceta eclesiológica do perdão. Nos dizeres de Cristo aparecem os elementos essenciais deste sacramento: a matéria, ou seja, as faltas e o arrependimento; e a forma: a declaração do perdão divino pelo ministro jurisdicionado para tal. O pecado é o que mais de negativo existe no comportamento humano: é um não dado à Sabedoria eterna, que estabeleceu uma ordem ética à qual o ser racional deve livremente se submeter. Na atitude de quem se recusa a obedecer um dos dez mandamentos, há três pontos que devem ser salientados: a perda de Deus - hamartia; a oposição a Ele - anomia; a dívida para com Sua justiça - adikia. O Criador é amor e o pecado é o não amor. É óbvio que há deslizes leves e outros graves, dependendo da espécie de violação legal, do conhecimento e do consentimento. É mais pernicioso mentir, lesando conscientemente direitos alheios, do que faltar a verdade em assuntos de somenos importância. Há circunstâncias que fazem um ato pecaminoso mais grave: infringir o sexto mandamento com uma pessoa casada é um adultério que é mais grave do que o pecado grave da masturbação. A condição ou aborrecimento do mal cometido é condição essencial para que haja a remissão do erro. Implícita deve estar a resolução ou o propósito de lutar. Isto não quer dizer que o sacramento confere a impecabilidade. Apenas Deus é imaculável. A fragilidade humana é uma realidade inegável. A declaração das culpas é necessária, conforme o ensinamento da Igreja. A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé reafirmou que “a confissão individual íntegra, bem como a absolvição permanecem o único modo ordinário pelo qual os fiéis se reconciliam com Deus e com a Igreja, a não ser que a impossibilidade física ou moral escuse de algum modo a confissão”. O sacerdote exerce um tríplice papel de juiz, de mestre e de médico.Eis por que as absolvições comunitárias, sem a confissão individual, a não ser em casos extraordinários, além de serem contrárias ás disposições da legislação eclesiástica, privam de uma reta orientação. A confissão é uma fonte de riqueza incalculável, sendo que quem cometeu pecado grave não pode comungar antes de se confessar. Aquele que cometeu apenas faltas leves, quando se confessa, recebe novas graças. Cumpre, portanto, muito valorizar este sacramento no qual se recebe o perdão divino. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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