quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Centenário de um notável parlamentar

CENTENÁRIO DE UM NOTÁVEL PARLAMENTAR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*


O dia 18 de janeiro último assinalou o centenário de nascimento do notável parlamentar Pe. Pedro Maciel Vidigal, falecido dia 02 de maio de 2004. As aclamações, a apoteose, são uma dívida consagrada ao mérito: e as emoções que ele desperta são tanto mais fortes quanto mais sublime sua origem. Soube este renomado Político erguer, com a austeridade de uma têmpera inabalável, a imagem viva do autêntico homem de fé, ostentando uma cultura invejável e uma dedicação inigualável à pátria a quem pôde servir em altos cargos eletivos. Nunca deixou, continuamente, de lutar de maneira denodada pelo bem comum, servindo aos cidadãos quer no ministério sacerdotal, quer na vida política e defendendo bravamente os direitos inalienáveis de Deus e do Evangelho.

Em 1932 e 1933 prestou relevantes serviços no Ginásio D. Helvécio em Ponte Nova, depois nas paróquias de Porto Firme em 1934, Dionísio em 1935 e 1936, Nova Era de 1937 a 1942 e na Capelania Militar em São João del Rei, em 1942. Foi, depois, Técnico de Educação na Divisão do Ensino Superior e Inspetor Federal da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais de 1943 a 1945.

Na vida política pertenceu ao Partido Social Democrático – PSD e à ARENA, no qual nunca traiu os nobres e louváveis ideais pessedistas. Deputado à Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais e Deputado Federal sempre foi liderado por sua consciência impoluta e reta. Pensava, falava e agia de acordo com ela. Na tribuna parlamentar e nos comícios populares jamais traiu a verdade e nunca cedeu às pressões dos poderosos, se curvando aos donos do poder.

Promoveu o bem comum durável em dezenas de municípios do Vale do Rio Doce e de outras regiões mineiras. Sem descuidar do crescimento econômico, sua ótima ação política, abençoada amplamente por Deus, sempre teve como principal objetivo a assistência à maternidade e à infância e a valorização do homem pela saúde e pela instrução, destacando-se entre tantos Colégios que amparou, o novo prédio do Seminário de Mariana durante a gestão de Dom Oscar de Oliveira. Neste prédio funciona hoje o Instituto de Filosofia daquele Seminário.

Participou da delegação do Brasil à Conferência Geral da UNESCO realizada em Nova Delhi, na Índia, nos dois últimos meses de 1956, à reunião da OIT, realizada em Genebra, em junho de 1959, e à Assembléia Geral da ONU, realizada em Nova York, em novembro de 1968. Representou a Câmara dos Deputados na Visita Oficial ao Japão e à China Nacionalista, feita a convite dos presidentes das Casas Legislativas de ambos os países em junho de 1964, e na Reunião da Primavera da União Parlamentar, realizada em Palma de Maiorca, capital das ilhas Baleares,-na Espanha, em março- abril de 1967. Percorreu em viagens culturais quase todos os países civilizados dos quatro continentes, aí buscando valiosos conhecimentos que enriqueceram seus admiráveis discursos.

Ele foi também um semeador de livros. Inúmeras as bibliotecas enriquecidas por obras valiosas por ele doadas, Cultor exímio da Língua de Camões, seus monumentais livros abordam os mais variados temas das ciências humanas e são um repertório de antropologia, medicina, psicologia, sociologia, história, literatura, política, filosofia e teologia. Seus artigos em renomados jornais e revistas especializadas sempre transmitiram uma mensagem do mais alto nível humano e religioso, vazado num torneio de frase insuperável, fazendo-o êmulo dos maiores clássicos de todos os tempos, a ponto de D. Oscar de Oliveira ter dito, várias vezes, ser ele, atualmente, o mais primoroso escritor de nossa pátria.

Sua prosa escultural rivaliza, de fato, com os príncipes da “última flor do Lácio”. Podemos, inclusive, ir mais longe e afirmar que desde os tempos de Cícero nunca se viu um escrever mais culto e forte; jamais se contemplou um falar mais altiloqüente e lustroso; mais escorreito e solene, mais incisivo e pulcro. Nem as peças oratórias de Demóstenes, nem as páginas de Tácito se igualam a textos antológicos de sua lavra. O que superioriza o caráter de um homem é a firmeza de princípios. Ser útil obriga a ser bom; ser bom, leva a ser firme; ser firme, significa ser forte. Daí vem a sabedoria que fortemente, desde uma extremidade a outra, dispõe todas as coisas com ordem.

Foi assim que, por longos anos labutou Pe. Pedro Maciel Vidigal. Não sem sacrifícios, tanto é verdade que há na gentileza do caráter toda a alteza da abnegação e na alteza da abnegação toda nobreza humana que não se curva jamais diante da injustiça.Como a verdadeira glória lança raízes e se estende, seu trabalho em Minas Gerais se tornou uma árvore frondosa em obras formidáveis, sobretudo de tal forma que as suas belas prédicas foram também os monumentos que ergueu a bem da cultura e da saúde do povo. Neste instante histórico em que se rareia a abnegação pessoal desprendida de alto idealismo, e no qual cresce avassaladora a onda do egoísmo; quando um indiferentismo sem norte, por vezes, substitui convicções e os mais altos interesses espirituais; e quando a Igreja se sente muitas vezes traída, é belo e confortador contemplar aqueles que corajosamente, monumentalmente, irrivalisavelmente, só intentaram o bem do próximo. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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