quarta-feira, 25 de novembro de 2015
A EXPERIÊNCIA DE DEUS
A EXPERIÊNCIA DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Quando se percorre a vida dos santos, fica claro que a posse de Deus por eles alcançada foi fruto de muita perseverança e coragem À total limpidez que fulge nestas existências privilegiadas se ajuntam as provações de toda espécie, as quais com fé e ânimo suportaram. É evidente que a graça divina pode conduzir as almas aos píncaros da vida interior, mas esta correspondência ao influxo divino exige o total desapego de si mesmo. Trata-se de deixar Deus agir sem temor algum, inclusive acatando o desgosto de O sentir, por vezes, longe. Oposição total a tudo que contradiz a seus desígnios. Despojamento integral de si mesmo e de tudo que se possui. Exatidão perfeita em cooperar com a graça. Afastamento imediato de todas as sugestões do espírito maligno. Numa palavra, tal cristão permite unicamente que Deus tudo governe. Dois meios sustentam a alma nesta caminhada, ou seja, o olhar constante para Cristo crucificado e a meditação dos detalhes de sua paixão. Isto conduz à renúncia ao amor de si mesmo e a suportar as mais difíceis tribulações. Entre estas se acha o vazio total ao qual ao qual Deus pode submeter quem quer a união com Ele. É sempre um ideal louvável almejar o progresso espiritual com muita humildade, dado que é árdua a caminhada nas estradas da santidade O arrimo é a prece do coração. Esta, segundo o Pe. Grou, “consiste numa disposição habitual e constante do amor de Deus, de submissão a sua vontade em todos os acontecimentos da vida numa atenção à voz de Deus, que se faz escutar no fundo da consciência e nos sugere sem cessar a contemplação do bem e da perfeição”. Longa esta explicação deste Mestre espiritual, mas que abrange todos os aspectos da vida do cristão. Esta prece do coração penetra então tudo que se faz, sejam as ocupações cotidianas ou os momentos de lazer. Os instantes de descanso sempre isentos de tudo que pode de longe macular a alma, casa santa da Santíssima Trindade. Mesmo quando o cristão não está pensando em Deus, através da reta intenção tudo está realizando para Sua maior glória. Por isto mesmo nunca malbarata o tempo e jamais permite nenhuma ação condenável, policiando com cuidado pensamentos e desejos. Esta é uma alma inteiramente entregue a seu Criador e Senhor e que transforma tudo numa prece ininterrupta. Percebe então apenas paz, imperturbabilidade. As contrariedades próprias deste exilio terreno são metamorfoseadas em atos de amor. O amor próprio é totalmente vencido. Não há a avidez de consolações. Tudo está entregue a Deus. Todas as cruzes interiores e exteriores se tornam um holocausto de agradável perfume que sobe até o trono divino. Tudo isto é obra da graça naqueles que correspondem às inspirações do Alto. São milhões de cristãos felizmente que vivem assim unidos a Deus. Usam das tarefas cotidianas e de tudo que está em seu derredor como instrumento para alcançar a bem-aventurança eterna, quando se dará a união definitiva com o Deus três vezes santo. Deste modo, a prece do coração é antes de tudo e, sobretudo, uma maneira de ser, de se colocar na escuta de Deus e avançar no seu amor. Deixar-se contaminar pelo dinamismo que flui lá do interior de cada um. Então são eliminadas todas as distâncias possam retardar a adesão a Deus. Surgem os sentimentos profundos como a confiança e a alegria. Isto não quer dizer que se admita um sentimentalismo estéril, superficial. Ao contrário, se trata do desenvolvimento dentro de si dos movimentos profundos que levam ao Ser Supremo numa espontaneidade e sinceridade que muito O agradam. Estas reflexões devem conduzir a uma purificação total do coração e de todo o ser. Para isto é preciso se libertar das cadeias com que um mundo de desordem e de pecados, almeja impedir os nobres anseios cristãos de união com Deus. Tudo que vem do espírito maligno constitui impurezas para o coração. Cumpre controlar sempre as emoções desregradas para que elas não obstem o contato com as realidades divinas. É preciso escapar ao automatismo do mal. Jesus advertiu: “Do coração procedem os maus desejos, homicídios, adultérios, fornicações, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. Estas são as coisas que contaminam o homem" (Mt 15.18-20). Atento, o cristão que aspira usufruir a experiência de Deus, evita estes desvarios. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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