quarta-feira, 24 de junho de 2015
"COMO AINDA NÃO TENDES FÉ?"
“COMO AINDA NÃO TENDES FÉ?”
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O episódio da tempestade no lago traz à baila a reflexão sobre a autêntica fé em Jesus (Mc 4,35-41). Com efeito, os apóstolos contemplaram o lado humano e divino de Cristo (Mc 4,35-41). Enquanto homem, Ele na barca, cansado, repousava, “a dormir sobre um travesseiro”. Diante da tempestade e das ondas que açoitavam o barco os discípulos amedrontados despertaram o Mestre para que Ele os socorresse naquela emergência. São Marcos relatou com precisão o que ocorreu então: “Ele, levantando-se, imperou ao vento e disse ao mar: “Cala-te”. “Acalma-te”. O vento cessou e fez-se uma grande bonança” Como, porém, os apóstolos estavam com muito medo, receberam uma reprimenda de Cristo: “Como é que ainda não tendes fé?” É a fé que induz a compreender o interior da pessoa do Filho de Deus. Esta fé é que conduz a apreender a verdade e a exatidão dos atos realizados por Cristo. Cumpria aos discípulos passar de uma percepção exterior dos feitos do poderoso Rabi da Galileia para uma concepção interior do Salvador da humanidade. Através dos tempos todos aqueles que se limitaram a admirar os gestos exteriores de Jesus viram nele muitas vezes apenas um personagem histórico e isto impedindo o verdadeiro ato de fé. O papa Bento XVI, no ano de 2000, denunciava a tentação de reduzir Jesus Cristo, o Filho de Deus, a um simples Jesus histórico, vislumbrando nele mais a humanidade do que sua divindade. Um Jesus visto nos moldes dos historiadores, segundo os parâmetros da historiografia. Entretanto, alertava o citado Papa, “o Jesus histórico é um artefato, imagem de seus autores e não a imagem do Deus vivo. Não é o Cristo da fé que é um mito, mas o Jesus histórico, que é uma figura mitológica, auto inventada por diversos intérpretes” Razão tinha Bento XVI de fazer este admoestação. De fato, muitas obras filosóficas ou literárias, certos professores, sobretudo, das Ciências Sociais nas Universidades desfiguram a autêntica personalidade de Jesus que se torna vítima das ideologias reinantes. Entretanto, o Jesus frágil, fatigado, dormindo é o mesmo Cristo forte que tem poder sobre os elementos da natureza e que operaria os mais admiráveis milagres com seu grande poder. Ele, Deus e homem verdadeiro. É necessária, porém, uma fé que nos conduz aos dois aspectos do Mestre divino, Verbo Encarnado. É esta fé que induz o cristão a ver no Jesus da História o Cristo Redentor de todos os homens. Porque Ele é o Bem-Amado do Pai, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade que se fez homem para nossa salvação, Jesus exige uma fé sem medo, que não seja inconstante, vacilante, a qual não imprime alento, determinação a seu epígono. A fé nele dá coragem e determina a coragem. É preciso que se tenha plena consciência de que a fé é um ato de absoluta confiança e não uma simples adesão intelectual a enfronhar uma cosmovisão que não significa a imersão total no mistério de Jesus. Nesta trajetória terrena, porém, diante dos percalços naturais a um exílio, a fé é uma aliança do homem com Deus, uma abertura para uma presença na qual “vivemos, e nos movemos, e existimos” (Atos 17,28). O ato de fé vai muito além dos argumentos da razão humana, das evidências e das provas intelectuais. Estas são em si insuficientes. Porque o fiel acredita em Jesus, ele pauta sua existência segundo os ensinamentos do Filho de Deus. Esta fé deve levar a um aprimoramento espiritual contínuo e daí a prece que está registrada no Evangelho: “Senhor, aumenta-nos a fé” (Lc 17,3-6). As ações do cristão devem ser compatíveis com a confiança que ele deposita em Jesus e isto demanda esforço para um progresso ininterrupto nos caminhos da perfeição. Esta atitude é possível dado que Cristo tantas vezes disse aos Apóstolos: “Não tenhais medo” Portanto, esta coragem gera a confiança e a confiança produz maravilhas na vida do cristão. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
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