segunda-feira, 25 de maio de 2015

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

DOMINGO DA SANTÍSSIMA TRINDADE Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* O fato de não se encontrar na Bíblia a palavra Trindade já oferece ocasião para uma reflexão profunda sobre esta verdade fundamental que é o mistério de um só Deus em três pessoas realmente distintas. O termo que surgiu no segundo século, foi fixado mais tarde nos Concílios de Nicéia e de Constantinopla, e exprime magnificamente o que Jesus revelou sobre a vida íntima de Deus em várias passagens do Evangelho. A ordem de Cristo foi esta: “Ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19). A revelação do mistério trinitário, feito pelo próprio Filho de Deus, foi preparada pedagogicamente através de todo o Antigo Testamento que firmou a existência de um só Deus, Senhor de tudo. O Livro do Deuteronômio, por exemplo, registrou o que Moisés falou ao povo: “Reconhece, pois, hoje e grava-o em teu coração que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra e que não há outro além dele (Dt 4,39). Jesus se referiu muitas vezes ao Pai e ao Espírito Santo e, deste modo, a fórmula filosófico-teológica foi precisa na formulação da extraordinária realidade referente ao Deus três vezes santo. O mistério da Santíssima Trindade demonstra que o Ser Supremo não se acha longe de suas criaturas, inacessível. O Mestre divino deixou patente que a natureza mesma da essência divina é o amor absoluto ou, melhor ainda, o absoluto do amor. Foi o que compreendeu magnificamente São João ao proclamar: «Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo 4, 16). O Espírito Santo chama o cristão a viver a vida mesma de Deus e o convida a crer no belo amor do Pai que através do Filho realizou maravilhas de dileção, de perdão e misericórdia. Ser cristão é entrar na corrente de vida, corrente de amor, semelhante à circulação de amor infinito que vai do Pai ao Filho pelo Espírito Santo. Eis porque viver o mistério da Santíssima Trindade é lhe ofertar o dom total da própria vida e, por isto mesmo, dom total também ao próximo, segundo o desejo de Cristo: “Que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em Ti" (Jo 17,21). À luz do mistério trinitário se compreende melhor o que Deus disse ao criar o ser racional: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança! (Gn 1,2-27). Todas estas verdades se recordam a cada passo ao se fazer o sinal da cruz pronunciando o nome das três Pessoas divinas. Trata-se de um sinal que se torna como que a assinatura de Deus, proprietário de tudo e de todos, irmanados na mesma fé. É a lembrança viva de que o amor e a comunhão fraterna são capazes de ir até o dom da própria vida como aconteceu com o Verbo de Deus Encarnado. Cumpre, porém, que se recorde sempre que a vida doada à honra e glória da Trindade Santa e ao serviço do próximo não é imolada de uma só vez, mas sim gota a gota, dia após dia. Este amor a Deus e ao próximo, contudo, só é possível na união perseverante que tudo envolve na dileção divina. É que o amor é a vida mesma da Santíssima Trindade na qual há uma comunhão plena, total, uma eterna e perfeita comunhão de doação e de comum união realidade que deve envolver todas as pessoas. São João foi enfático quando na sua primeira carta exortou: “Caríssimos, amemo-nos mutuamente, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama é gerado por Deus e conhece a Deus” (1 João 4,7). Isto significa que penetrar fundo no mistério da Santíssima Trindade é compreender a verdadeira natureza das relações pessoais com o Ser Supremo e com o semelhante, envolvendo tudo num oceano de amor. A abertura da vida para o Deus Uno e Trino inclui, portanto, o acatamento mútuo, o espírito de serviço e de compartilhamento. Tal foi a ordem de Jesus aos Apóstolos que eles partilhassem com os outros, mundo afora, a Boa Nova e a experiência que tiveram da sua dileção. Eles não deveriam ficar reunidos nem ficar entre os judeus, mas, num apostolado eficiente deveriam levar a todas as partes o anúncio da salvação. Foram enviados para batizar em nome de um Deus de amor, Uno e Trino, Pai, Filho e Espírito Santo. Não se tratava de um mero rito, nem de uma adesão a idéias, mas de uma conversão concreta e de uma participação vital na experiência do Evangelho, numa vida inteiramente conformada à mensagem que, do seio da Trindade, Cristo trouxe a esta terra. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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