segunda-feira, 9 de março de 2015

REFLEXÕES ANTROPOLÓGICAS

REFLEXÕES ANTROPOLÓGICAS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* O desejo é o motor da ação humana. Eis por que é preciso escapar dos sortilégios da ideologia externa que não se fundamenta numa certeza metafísica. Para evitar a influência daquilo que é efêmero e que chega a cada um através da comunicação é então preciso uma revisão permanente dos objetivos pessoais a serem atingidos. Isto, sobretudo, quando surge conflito entre os impulsos que advêm de um consenso social mal embasado. Há, pois necessidade de ponderar os desejos para se puder atingir o comando de si mesmo. Não á fácil perceber o sentido e o valor da existência por entre as mensagens recebidas. Estas, aliás, remontam até o momento em que o individuo foi concebido no seio materno. Os recursos da psicanálise são importantes, bem como a análise acurada do contexto social em que se viveu e se vive. Daí uma interpretação sábia dos sinais que borbulham incessantemente dentro de cada um. Esta tarefa é hoje tanto mais complexa, dada a aceleração da história e a profusão das comunicações da mídia, o que complica uma lúcida percepção do presente e do futuro. As situações variam a cada passo e pinçar o essencial por entre as mutações supõe uma inteligência atenta a tudo. Quem quer encontrar o verdadeiro sentido da vida há de se posicionar perante os mais variados anseios alimentados por uma sociedade de consumo. Se estes anelos são em si maléficos por irem contra a lei natural que se acha inserida no íntimo do ser racional ou prejudicial ao próprio bem estar físico e psíquico, a razão pode solucionar de plano a questão. Muitas vezes cumpre, porém, parar, pensar maduramente, e, após a reflexão, resolver que partido tomar. Um recurso precioso é a epoqué de que fala a fenomenologia, ou o seja, colocar entre parêntesis o passado de o futuro e tomar conhecimento do sentido da vida aqui e agora. Cumpre combater sempre a desorientação anímica, afastando a opacidade em torno de si. Trata-se de se conectar com o real e não ao imaginário nebuloso. As tensões que, por vezes, envolvem as pessoas são exatamente fruto dos desejos mal definidos e interpretados. Daí resulta a submissão aos caprichos dos impulsos irrazoáveis. Quando, porém, se fixam com clareza desejos construtivos estes tendem a plenamente se realizar. Tais impulsos levam à ação e mais hora menos hora o desejo se concretiza porque todas as forças interiores se mobilizam em torno do mesmo. É aí que se encaixa o propósito o qual é um ato eminentemente humano. Apenas há vida humana no sentido pleno da palavra na medida em que é guiada por bons intentos. Formular um propósito é ver com a razão e querer com a vontade o que se deve fazer. Infeliz aquele cuja vida se degrada e se afunda nos hábitos que não constroem uma personalidade firme e coerente. Ai daquele que flutua ao sopro incerto das impressões, vida análoga ao sonho disperso, incoerente, absurdo, que nada rende de bom. O propósito firme é o escudo de um desejo construtivo. |Por isto uma vez tomada uma resolução é preciso caminhar adiante, para frente e sem discutir. O vendaval que pode abalar uma decisão necessária é uma contra ordem que detém as faculdades de execução e todas as energias que lá estavam, prontas para uma atuação eficaz. Toda atenção é pouca diante dos entraves exteriores ou das forças psicológicas adversas. Cumpre estar sempre precavido contra a emoção-choque e o desânimo. É o momento, porém mais eficaz para dar à vida o máximo de força e de valor. Aí o grande segredo para que alguém possa ser senhor de si mesmo, empregando com sabedoria a liberdade. Ideias negativas devem ser expulsas imediatamente para que elas não acorrentem o ideal de perfeição perquirido. É o mais longe possível dos sentidos que a liberdade se desenvolve espontaneamente, calma e forte. É mais fácil resistir ao primeiro desejo negativo, porque depois o esmorecimento pode levar a derrotas fragorosas. A defesa do desejo que se procurou incarnar é a luz que alarga os horizontes, a asa ágil que arranca o ser humano às fatalidades da matéria e faz plainar acima das atrações perversas que combatem o anseio de progresso, numa orientação sábia da vida. É preciso uma posição estratégica fruto de uma firmeza inabalável para que cada um possa ser senhor de si mesmo. Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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