segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

JESUS DESCEU À MANSÃO DOS MORTOS

JESUS DESCEU À MANSÃO DOS MORTOS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Após sua morte, a alma de Jesus, por ela mesmo, desceu à mansão dos mortos, aos infernos. A palavra inferno vem do latim infernus, isto é, no fundo, lá em baixo. Na concepção dos judeus, corresponde ao que a Bíblia chama de sheol (Sl 49,16). Esta palavra significa o lugar do Reino dos Mortos, onde as almas dos justos esperavam a visão beatífica, gozando, porém de uma beatitude natural. Não se pode confundir “os infernos” com o “inferno” dos condenados eternamente. Por ocasião de sua descida aos infernos, a alma de Jesus não foi até o abismo profundo onde estavam os condenados, aquele “poço de abismo” de fala o Apocalipse (91). Ele foi até onde estavam as almas dos bons que o haviam precedido. Era a última etapa de sua missão salvadora, pois, após sua Ressurreição, é que o céu seria aberto. Ele foi então até “o seio de Abraão” (Lc 16,22), ou seja, o limbo na linguagem dos Santos Padres. Chamamos de «Padres da Igreja» (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Jesus, assim, logo após sua morte foi “pregar aos espíritos encerrados no cárcere” (1Pd 3,19). Ele os salvaria do “inferno subterrâneo” (Sl 86,13). Eles viram a majestade infinita de seu Libertador. Ele iluminou o lugar onde estavam os bem-aventurados aguardando a visão beatífica do céu. Naquele instante o inferno dos condenados eternos, ou seja, anjos decaídos, homens e mulheres que haviam recusado o Amor de Deus perceberam, ainda mais, a catástrofe de suas vidas. Eles haviam rejeitado eternamente a vontade divina. Onde eles estavam era o inferno oposto inteiramente ao céu dos eleitos de Deus. O inferno, portanto, nada tem a ver com o purgatório onde as almas que morreram em estado de graça se purificam de suas faltas terrenas antes de entrar na glória celeste. Jesus falou de perdão de pecados “no outro mundo” (Mt. 12,32), o que se refere ao Purgatório. S. Paulo se referiu a pecados leves que serão queimados pelo fogo, (1 Cor. 3,11-15); referindo-se igualmente ao Purgatório. No século terceiro. Tertuliano já falava de Missas de aniversário de defuntos: “Consagramos um dia por ano a oblações pelos mortos, como se fora dia de seu nascimento”. Santo Agostinho, no século quinto, escreve que sua mãe, Santa Mônica, lhe disse, já prestes a morrer: “Enterre este meu corpo onde quiseres, e não te incomodes mais com ele. Uma coisa te peço: onde quer que estiveres, lembra-te de mim ao altar do Senhor” (Conf., 9,27). S. Cirilo de Jerusalém (315-386) afirmou: “Rogamos por todos os que faleceram em comunhão conosco, pois cremos que suas almas recebem grande auxílio, quando oramos por elas, e principalmente quando por elas oferecemos o santo Sacrifício”. De S. João Crisóstomo (344-407) estas palavras: “Não são vãs as oblações que fazemos pelos defuntos; não são vãs as súplicas; não são vãs as esmolas”. Todas as antigas Liturgias, do Oriente como do Ocidente, contém orações pelos mortos. É que muitos morrem com pecados veniais, ou sem terem satisfeito à divina justiça a pena temporal devida a seus pecados graves. Deus é o Senhor da vida e da morte (Os 13, 14; Dt 32, 39; 1 Sam 2, 6). Cristo tem as chaves do reino dos mortos (Ap 1, 18; 1 Pd 4, 5-6; Ef 4, 8-10). O Redentor comunica a vida ao mundo pela Sua Ressurreição (Jo 7, 37; 10, 14; 12, 20-) e redime-nos por ela (Rm 4, 24; 10, 9; 2 Cor 5, 14-16) . A Ressurreição de Jesus é a causa da nossa ressurreição escatológica (1 Cor 15, 1 ss); batismal (Rom 6,1-11) e moral (Ef 4, 17-24). Cristo foi claro: “Eu sou a ressurreição e a vida. O que crê em mim ainda que esteja morto viverá e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11,15). Donde a conclusão de São Paulo ao falar da ressurreição final: “Consolai-vos, pois, uns aos outros com estas palavras” (1 Ts 4,17). Aconselha, porém: “Se, pois, ressuscitastes com Cristo (no batismo), procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto, e não nas da terra, pois morrestes (para as coisas do mundo) e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1). Deste modo se escapa do inferno e se poderá ir direto para ao céu ou passar pelo purgatório e aí se purificar. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos

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