A SABEDORIA DE DEUS

A SABEDORIA DE DEUS Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho* Na Primeira Carta aos Coríntios São Paulo afirma que a sabedoria que é transmitida entre os cristãos perfeitos é a sabedoria de Deus (1 Cor 2,6). Esta sabedoria divina opõe-se à sabedoria meramente humana que é falível. Esta é sujeita ao erro e destinada à destruição. Aquela é eterna e absoluta. É nela eu se apoia a fé do cristão que crê no poder de Deus não na capacidade dos homens. . As forças humanas sejam elas políticas, econômicas ou as dos que se dizem sábios e divulgam falsas doutrinas não conduzem ao conhecimento e à compreensão do mistério reservado aos que aderem inteiramente a Cristo. Aí está a razão pela qual o Apóstolo pôde afirmar que, se alguém está, porém, em Cristo, é uma nova criatura” (2 Cor 5,17). Esta nova criatura é o batizado perfeito, adulto na fé, impregnado da sabedoria de Deus. Ao contrário daquele ao qual falta a maturidade espiritual e é infantil, carnal, fraco, frágil. Age de uma maneira humana e não tem um comportamento adequado, não possui os dons do “Espírito que vem de Deus”. O cristão autêntico está convicto de que os critérios mundanos são diferentes dos critérios divinos que um dia permitirão entrar na esfera da eternidade de Deus. O cristão perfeito, na concepção de São Paulo, possui então um conhecimento superior que o envolve na limpidez do coração a qual o permitirá um dia ver a Deus face a face (Mt 5,8). Deste modo o discípulo de Cristo fica blindado contra os valores negativos que a mídia veicula continuamente. Estes introduzem conflitos internos que são inteiramente superados apenas com a graça divina. Trata-se de se libertar dos elementos meramente terrestres. O homem todo, corpo e alma, necessita sempre se converter à sabedoria divina, se tornando um ser e espiritual. Isto se dá pela renovação de seu coração que se deixa transformar pelo Espírito de Deus, permitindo que este o leve a um nível de discernimento superior. Donde resultar normalmente uma dependência total de Cristo, sabedoria eterna do Pai. Uma relação pessoal fundada na fé, na humildade, na sinceridade. Donde resulta o aperfeiçoamento existencial da pessoa humana e sua realização na paz interior mais beatificante. Então se atinge o ideal cristão de uma união profunda com a Santíssima Trindade que habita em na alma, prelibando, deste modo, a felicidade eterna. É que na eternidade o ser humano regenerado no batismo estará inteiramente imerso em Deus, assumido por Ele. Estará revestido das vestimentas da alegria sem fim. Assim sendo, neste mundo, é preciso, desde já, perceber aquelas coisas que são da eternidade. Esta percepção é possível ao cristão perfeito que tem “o pensamento de Cristo” (1 Cor 2,15). Entretanto não significa estar alheio ao contexto em que se vive, pois o próprio Jesus assim rezou ao Pai, referindo-se a seus seguidores: “Não oro para que os tires do mundo, mas sim, para que os protejas do príncipe deste mundo Eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo (Jo 17,15- 16). O projeto de Deus ultrapassa, de fato, as fronteiras terrestres. Entretanto, tão somente aqueles que possuem a sabedoria divina podem romper as barreiras visíveis em busca da bem-aventurança infindável. Contudo, não se pode nunca esquecer que a linguagem de Cruz se insere no quadro da sabedoria de Deus. São Paulo detalhou esta verdade ao dizer que “nós pregamos a Cristo crucificado que é um escândalo para os judeus e uma loucura para os gentios, mas para aqueles que são chamados por Deus, quer sejam judeus quer sejam gregos, Cristo é potência de Deus e sabedoria de Deus (1 Cor 1,23-25). Aliás, o Mestre divino, que é o caminho para a visão beatífica, havia preceituado: “Se alguém quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Então se compreende que é pela cruz que se pode chegar à luz interminável. Por caminhos estreitos é que cada um e aproxima das culminâncias das eternas moradas. Sacrifícios cotidianos possibilitam alcançar as alturas sempiternas. Esta é a pedagogia salutar que flui da sabedoria de Deus e que indica o caminho certo, seguro, rumo à imortalidade ditosa na Jerusalém celeste. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.