terça-feira, 7 de junho de 2011

AS ROSAS DE SANTA RITA

AS ROSAS DE SANTA RITA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Lemos na vida de Santa Rita de Cássia que pouco antes de morrer, uma visitante, sua parente, perguntou se queria algo e ela pediu que lhe trouxessem rosas de sua terra natal. “Impossível, disse a parente agora é pleno inverno". Santa Rita respondeu : " Vá e encontrarás o que peço".
Ao chegar a parente, em Rocca Porena, no jardim em frente a sua casa, havia no meio da neve, uma bela roseira com lindas flores de onde colheu as rosas que Santa Rita havia pedido. Daí o costume de se distribuir rosas no dia 22 de maio, mas é preciso captar a mensagem destas rosas.
Uma das mais belas expressões do apóstolo Paulo é a que se encontra na segunda Carta aos Coríntios: "Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem" (2Cor 2,15). É que o batizado, ungido de Cristo pelo crisma, que é mistura de óleo de oliva e do bálsamo, deve irradiar o perfume das virtudes cristãs. Assim ele difunde a revelação do Redentor, o conhecimento das verdades eternas, vivenciadas no comportamento de cada instante. Esta fragrância celestial é vivificadora para os que a percebem. Tal a prescrição do Eclesiástico: “Exalai fragrante cheiro” (Ec 39,19). Adite-se que o perfume era empregado entre os hebreus no sacrifício. Fazia parte do culto divino. No templo havia o “altar dos perfumes”. Seu uso está assim descrito: “E Arão queimará sobre ele todas as manhãs um incenso de suave aroma. Acendê-lo-á quando preparar as lâmpadas; e quando as colocar, ao anoitecer, queimará um perfume perpétuo diante do Senhor por vossas gerações. Não oferecereis sobre ele perfume de outra composição, nem oblação, nem vítima, nem fareis libações” (Ex 7,10). Donde o dito paulino incluir também a obrigação que o discípulo de Cristo tem de saturar suas ações com um profundo espírito de oblação. Aliás diz o mesmo São Paulo que Cristo ofereceu-se “a Deus em sacrifício de agradável odor” ( Ef 5,2). O sacrifício espontâneo do cristão é então um prolongamento do gesto salvífico do Redentor. Trata-se de uma atitude florida com sua essência de amor e louvor. O Livro dos Provérbios assevera: “Com o perfume e a variedade de cheiros se deleita o coração” ( Pv 27,9). Assim o discípulo do Salvador que exala o aroma sobrenatural manifesta o júbilo existencial de que está possuída. Firme na rocha divina, nada o abate ou constrange.
Aliás é dentro desta perspectiva que Maria, a Mãe de Cristo, é também denominada a Rosa Mística. Bem se toma a rainha das flores para representar expressivamente a Soberana que trescala o olor de todas as perfeições sobrenaturais.
As rosas de Santa Rita nos devem lembrar tudo isto.
Na Sagrada Escritura a rosa aparece com destaque. O livro do Eclesiástico emprega belas metáforas para indicar as flores e os frutos espirituais que dará o sábio. Exorta então: “Ouvi-me vós, que sois uma prosápia divina, e, como rosal plantado sobre as correntes das águas, frutificai” (Ec 3917). Cresci como a Palmeira de Cades, e como as plantas das rosas de Jericó” ( Ec 24,18). Do sumo sacerdote Simão se diz que resplandeceu no templo de Deus “como a flor da rosa nos dias da primavera”( Ec 56,8). Rita de Cássia realizou este ideal em sua existência admirável. Cumpre a seus devotos imitá-la.
.Rita de Cássia viveu imersa sempre no Ser Supremo dia a dia cresceu em santidade. Oculta aos olhos dos homens, escondida na mais total união com o Criador, foi objeto de especiais cuidados do Todo-Poderoso. Ela é, assim, um convite vivo a seus devotos, os quais pela renúncia generosa, pelo prazer arrancado antes de ser, pela imersão em Deus, podem se abrir em forma de rosa ante o Ser Supremo, fazendo refulgir um pouco da celestial grandeza da notável Padroeira. O devoto de Santa Rita deve, realmente, exalar as fragrâncias celestiais de todas as virtudes.. Moslin Ud Din, célebre poeta persa, narra esta história: “Um dia, apanhei um pouco de argila perfumada. “És almíscar ou âmbar cinzento?” perguntei à argila. “Teu cheiro me faz desfalecer”. E ela mesma respondeu: “Eu não era mais do que terra sem valor, mas tendo vivido algum tempo com a rosa, adquiri algumas de suas virtudes. Sem isto, não passaria de humilde argila”. Vivendo sempre ao lado da celestial Patrona, se pega um pouco do perfume de suas virtudes.
* Professor. no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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