terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Anúncio do Evangelho e apelo à conversão

ANÚNCIO DO EVANGELHO E APELO À CONVERSÃO
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho *
Quando João Batista foi preso, Cristo deixou Nazaré e foi para Cafarnaum e São Mateus registrou então que “daí em diante Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4,17-18). Cumpre relacionar tais fatos com os grandes temas da pregação do Mestre divino, reveladores de sua personalidade. Ele escolheria os primeiros pregoeiros do Evangelho do reino, selecionados entre pescadores. Isto era bem o símbolo da pesca maravilhosa de almas para tirá-las das trevas e envolvê-las na luz. É que os tempos anunciados pelas Escrituras tinham chegado, o Reino de Deus iria se manifestar no coração da história humana e os homens seriam convidados a crer nesta mensagem, porque Ele era a Palavra viva descida do céu. De fato, a Bíblia é o único livro religioso que testemunha uma revelação do Ser Supremo que entra no curso histórico dos tempos. Para os judeus e para os cristãos a Bíblia na sua diversidade é um testemunho qualificado de uma a série de acontecimentos, nos quais aparecem inúmeros personagens e é através da história sagrada que a revelação chegou aos homens. Tal realidade foi captada profundamente por São Paulo que asseverou solenemente que “ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho nascido de uma mulher, nascido sobe a lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à lei e para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4). Deus se revelou dentro da história. Para os cristãos, Jesus não foi somente um fundador de religião como Maomé, mas foi o centro de uma história santa, reveladora de Deus. O Antigo Testamento e toda a preparação para a vinda do Messias prometido encontram sua realização na pessoa e na biografia de Jesus. Surge, desde então, no mundo uma nova comunidade não de ordem sócio-política, mas inteiramente voltada para a salvação, ou seja, a Igreja de Jesus Cristo. A Pedro ele dirá mais tarde: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 1,2.12). Após Pentecostes, o príncipe dos Apóstolos e seus companheiros escolhidos a dedo por Jesus, pregariam por toda parte o Evangelho do Reino. Bem se divide a história geral em antes e depois de Cristo, pois a Boa Nova faria surgir a cultura cristã. Todos os povos de todas as culturas seriam convidados a encontrar a salvação prometida. A fé anunciada ao mundo pela Igreja ficaria enraizada no mais profundo da história humana. A comunidade da Primeira Aliança, que guardava a tradição de Abraão, de Moisés, dos profetas e dos reis, dos cânticos inspirados e dos Sábios de Israel, encontrou na pessoa de Jesus o termo definitivo de seu desenvolvimento secular. A partir dele e por sua mediação, fruto supremo da árvore de Israel e manifestação de Deus mesmo no coração do gênero humano, o acesso do povo de Deus se abriu para todas as gentes. Um dia o Filho do homem virá na sua glória, escoltado de todos os anjos (Mt 25,31), mas não sabemos “nem o dia nem a hora” (Mt 25,13), pois se o soubéssemos toda história estaria comprometida no seu movimento normal. Até lá, todos devem se converter, porque a trajetória de cada umno seu tempo de vida terrena determinará sua sorte por toda a eternidade. Em síntese, a chegada de Jesus a esta terra inaugurou o tempo decisivo no qual a salvação é proposta aos homens que devem fazer sua opção livre para uma felicidade perene ou para uma condenação eterna. Esta alternativa respeita o livre arbítrio do qual cada um é dotado. A escolha pela ventura no céu se dá através de uma conversão contínua para as coisas do alto, sem adesão a tudo que contraria o Reino dos céus que está próximo, pois curta é a existência terrena do ser humano. A conversão é uma mudança de disposições no coração e na conduta diária, numa acolhida sincera do Evangelho. Sabedor, porém, das fraquezas humanas, na temática da pregação de Jesus estaria sempre o apelo de Deus para uma metania contínua, como também a certeza do perdão divino para os que se arrependem de seus erros. Ele pessoalmente anistiou a muitos e escandalizou os judeus, por exemplo, indo à casa de Zaqueu e quando perdoou à pecadora pública durante a refeição que um fariseu lhe ofereceu (Lc 7,36-50). Tal a ordem que Ele sempre dará: “Não tornes a pecar” ( Jo 8,11) . É que a observância dos mandamentos de Deus é o sinal da sinceridade com que se recebeu o seu perdão. A maneira de se compreender o Reino divino e sua justiça é extremamente exigente, mas é penhor da redenção definitiva. Jesus não deixará dúvida: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçosa a via que leva à perdição” (Mt 7, 13). Daí sua advertência: “Convertei-vos porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4, 17). * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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