quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O BATISMO DE JESUS

O BATISMO DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
João Batista batizou Cristo na água, mas, antes, quando Jesus se aproximou, reconheceu nele aquele que tivera a missão de anunciar. Eis por que ele diz: “ Sou eu que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim” (Mt 3, 14). Aceitando o batismo joanino, Jesus, aquele no qual todo ser racional receberia o batismo verdadeiro da água e do Espírito, mostrou que ele não viera abolir, mas cumprir a Lei e os Profetas. Derramando seu sangue sobre a Cruz Ele demonstrou que o seu batismo único era aquele no qual cada um lançado com Ele na morte, ressuscitando, salvo por Ele e com Ele recebendo uma vida nova, a do Espírito Santo. São Paulo captou tão sublime realidade e explicou: “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova” (Rm 6,4). Donde a conclusão deste Apóstolo que aconselhava: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Não como uma veste exterior, mas se trata de uma realidade que penetra no íntimo do ser e infunde uma vida superior. Eis por que ser verídica a máxima: “O cristão é outro Cristo”. No batismo se dá uma configuração com o divino Redentor. Que grande dignidade e responsabilidade do batizado! Além disto, o batismo de Jesus assinala a inauguração solene, claramente sancionada pela divindade, do seu ministério público. A vinda do Espírito Santo sobre Cristo lembra outros casos similares do Antigo Testamento, quando as pessoas chamadas a executar tarefas difíceis eram investidas com uma assistência especial de Deus. No caso de Jesus era um sinal da origem divina de sua missão, Ele Deus e homem verdadeiro. Não se tratou de um acréscimo de graça, pois esta Jesus já a possuía em plenitude. Nem a descida do Espírito Santo, nem a voz do Pai mudaram algo na pessoa ou excelência de Cristo. Era apenas o reconhecimento de uma tarefa salvífica de que estava incumbido o Verbo de Deus Encarnado e a proclamação de sua dignidade messiânica. Muitos hereges julgaram, erroneamente, ser este momento no qual Jesus teve consciência de sua divindade e alguns chegaram a afirmar que foi então que a Segunda Pessoa da Trindade desceu sobre o homem Jesus. Estes erros foram combatidos desde o início do cristianismo. Além disto, o batismo de João, que não era sacramento, prenunciava o Batismo que Cristo instituiria. O drama que vive o cristianismo neste início de milênio é a perda gradativa, por parte do batizado, da percepção de sua distinção excelsa. A postura religiosa, ofuscada pelo materialismo reinante, faz com que muitos epígonos de Cristo não vivenciem o significado profundo de sua comunhão com Deus, iniciada no dia venturoso de seu Batismo. O Papa Paulo VI declarou: “Devemos observar como nem sempre os cristãos têm consciência de serem cristãos; nem sempre tiram desta realidade que os define, a linha inspiradora de sua vida.” A teologia do batismo encontra-se exposta por S. Paulo. Este insiste neste fato sublime: a excelsa condição de ser batizado. É que o Apóstolo entendeu plenamente a doutrina do Mestre sobre a regeneração espiritual: “Quem não nascer de novo da água e do Espírito Santo não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3,5), A base é a fé: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16). O batismo é então uma criação nova (Gl 6,15) com efeitos maravilhosos advindos de uma renovação existencial profunda. Donde ser este um sacramento pascal. O batizado, morto para o pecado, passa a viver para Deus em Jesus (Rm 6,11). Faz-se outro Cristo (Gl 2,20; Fl 1, 21). Dá-se uma metamorfose radical. Surge um homem novo (Rm 6,6) O ponto fulcral do pensamento paulino está, de fato, exposto na carta aos romanos: pelo batismo fomos sepultados com o Filho de Deus, a fim de que tenhamos uma vida nova. (Rm 6,3-5), Daí sua fulgente conclusão que é todo um programa para o cotidiano: “Portanto, se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são lá de cima, onde Cristo está sentado à destra de Deus; afeiçoai-vos às coisas que são lá de cima não as que estão sobre a terra. Porque (pelo batismo) estais mortos (para as coisas terrenas) e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1). Nunca o fiel saberá valorizar bastante o que este rito sacramental lhe outorga. Pela graça santificante é “participante da natureza divina”(1 Pd 1,4). Torna-se herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo (Rm 8,17) no qual está inserido, como ensina São Paulo: “Já não sou quem vive é Cristo quem vive em mim” (Gl 2, 20). Como lembrou o Vaticano II, o cristão participa do múnus sacerdotal, régio e profético de Jesus. Eis por que no louvor contínuo a Deus e no anúncio de Cristo, vivido intensamente em todos os seus atos, o batizado é o arauto do Reino e cidadão do céu, sua pátria definitiva.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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