quarta-feira, 23 de junho de 2010

A identificação com Jesus

A IDENTIFICAÇÃO COM JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
As palavras de Cristo foram claríssimas: “Quem não permanecer em mim será lançado fora como um ramo e sacará (Jo 15,6). Há uma passagem da Carta de São Paulo aos Efésios que cumpre seja mentalizada. O Apóstolo propõe um ideal de vida cristã dizendo que o esforço deve ser contínuo “até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13). Isto significa a vida e o desenvolvimento da pessoa de Jesus em cada um de seus seguidores. Trata-se de um processo espiritual dinâmico que deve se desenvolver e crescer continuamente até o dia de sua eflorescência perfeita lá no céu. Este o foi o leitmotiv, ou seja, o lema ou idéia sobre a qual tanto insistiu o Apóstolo em suas magníficas Epístolas. Eis algumas passagens sumamente expressivas: “Estais mortos e vossa vida está oculta em Deus com Cristo” (Cl 3,3). É que pelo batismo o cristão morre para a vida natural, morrendo com Cristo, mas renasce filho de Deus. Duas vezes ele insiste: “Revesti-vos de Cristo” (Rom 13,14; Ef 4,24). Com efeito, o batizado é “enxertado em Cristo” (Gl 3,27), o que significa que nossa vida estéril se transformou numa vida que produz frutos opimos para a vida eterna. Há várias maneiras de encarar esta realidade da incorporação do cristão no divino Redentor, doutrina fecunda sob o ponto de vista espiritual. São Paulo, porém, deu o fundamento deste fato maravilhoso: “Vós sois corpo de Cristo, sois seus membros” (Cor 12,27). Jesus, de fato, por sua vida e redenção formou para si um corpo místico no qual Ele próprio continua a viver, a amar e a glorificar o Pai. União muito real, íntima e maravilhosa. Tal deve ser, então, o empenho de todo batizado ir transformando sua existência, elevando-a a culminâncias não pressentidas, mas que se tornou concreta para o Apóstolo que pôde com toda veracidade afirmar: “Para mim, a vida é Cristo e morrer, me é lucro” (Fl 1,21). Com efeito, Cristo reclama corações que se lhe entreguem e abandonem e consintam que viva neles e por eles sua infinita paixão de amor divino. Pede a cada um de nós, seus membros, todo o nosso ser, o nosso corpo e a nossa alma com todas as potências, para assimilá-las, delas se apropriar e viver nelas sua vida de dileção para com o Pai. Como dizia a Irmã Isabel da Trindade, Jesus quer que nossa vida seja um complemento e um prolongamento da sua existência neste mundo para glória do Pai. Grandeza inefável, portanto, da vida cristã. O batizado não é somente ele próprio, não apenas o ser racional, é também algo de Jesus, é Jesus, está divinizado por sua incorporação a Cristo. O horizonte do cristão não é restrito. Ele está no tempo, mas vive já a felicidade eterna por estar unido ao divino Salvador. Este sendo o referencial de uma existência, se torna o ideal magnífico, capaz de transformar e sublimar todos os gestos, todas as ações, todos os planos. Para isto cumpre em cada momento que o batizado se lembre do célebre brocardo da Igreja primitiva christianus alter Christus – o cristão é outro Cristo. Ele quer agir, orar, sofrer e amar em nós. Uma tal verdade conduz infalivelmente a um despojamento dos próprios sentimentos mesquinhos, dos anelos limitados, para revestir os sentimentos de amplitude imensa que animavam as atitudes, a oração, os sofrimentos de Cristo no tempo de sua vida mortal. Supõe entrega total a Cristo por meio de uma doação completa, franqueando-Lhe todo o lugar em nós. Daí a visão de tudo sob o ponto de vista de Jesus, deixando-O viver e crescer livremente em nós, sem embaraços. Tal foi a espiritualidade de São Paulo de quem se pôde dizer cor Pauli, cor Christi – o coração de Paulo é o coração de Cristo. Não se trata, pois de desejar que Cristo viva a nossa vida, mas que Ele viva Sua vida em nós. Os dois aspectos não se confundem, pois o segundo é superior e mais sublime. É o cristão que deve se adaptar a Cristo e não Cristo ao cristão, Ele prosseguindo neste a Sua vida. *Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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