sábado, 8 de maio de 2010

JESUS, O LIBERTADOR

JESUS, O LIBERTADOR
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na Sinagoga de Nazaré, Jesus confirma que as palavras do profeta Isaías nele se cumpriam, sendo Ele o libertador que proclamaria “um ano da graça do Senhor” (Lc 1,14,19). Libertação da pobreza, de todo cativeiro, da cegueira e de qualquer opressão. A redenção oferecida por Deus através de seu Filho é de uma extraordinária abrangência. No Antigo Testamento contemplamos como, com braço forte, o Todo-poderoso libertou seu povo do poder do Faraó, prefigurando a salvação total que se daria através de Jesus Cristo. Este enriqueceu os destituídos de bens terrenos, conforme bem explicou São Tiago, afirmando que Deus escolheu os pobres deste mundo “para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino prometidos por Deus aos que o amam” (Tg 2,5). Libertação da servidão do pecado, tornando seus seguidores, isso sim, “escravos da virtude”, como bem mostrou São Paulo aos Romanos (Rm 6,18). Retirou toda espécie de cegueira, pois conforme São João “nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,4). Jesus colocou, ainda, um fim ao cativeiro de satanás, pois Deus “nos subtraiu do domínio das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”, realidade esta bem salientada pelo Apóstolo aos Colossenses (Cl 1,13). Deste modo, se estabeleceu a liberdade cristã, situada num plano superior ao social. Quem cresse na sua mensagem estaria livre, porque nele se recebe o poder de viver na intimidade do Pai, sem ser manietado pelos laços do pecado, da morte e das contingências humanas. Liberto, o cristão está todo envolvido numa confiança audaz, de uma sábia altivez porque revestido do espírito de filho de Deus e não de um escravo pelo que pode bradar “Abá, ó Pai” (Rm 8, 15. Libertados inteiramente por Cristo os batizados precisam, porém, estar atentos à recomendação paulina: “Irmãos, fostes chamados à liberdade; só que essa liberdade não vire pretexto para a carne” (Gl 5,13). O que Cristo oferece é a liberdade espiritual. Trata-se do domínio sereno das paixões. É o chegar-se à condição do homem espiritualizado, cujas reações, tanto íntimas quanto exteriores, sempre estão em sintonia com os ensinamentos e os exemplos de Jesus. É o viver à maneira de Cristo, o Libertador, que ensina a arte de existir na imperturbabilidade, na felicidade total. O cristão libertado por Jesus é deste modo rico, não sujeito a nenhum cativeiro, iluminado, não conhecendo nenhuma tirania das forças terrenas. Possui a posse serena de si mesmo. Entretanto, porque Cristo, o Senhor, se fez o servo de todos, a liberdade que concede ao seu discípulo o leva a se tornar disponível em todas as ocasiões da caridade, tanto no que diz respeito a Deus como ao próximo. O cristão livre se sente estimulado ao amor e este amor o torna cada vez mais apto para se doar ao Criador e às criaturas, sobretudo aos pobres. Toda a ação e ensinamento do próprio Jesus Libertador leva à identificação no Cristo pobre. Deste modo, o encontro com o necessitado é o encontro com Jesus, o qual afirmou que veio evangelizar os pobres. A condição para se viver na liberdade de Jesus é tornar-se próximo do irmão, combatendo as idolatrias que dividem e separam do Deus, visível nos outros. Eis o sentido profundo das palavras de Jesus: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes (Mt 25,40). O próximo se torna desta maneira o meio do encontro da verdadeira liberdade, porque o cristão fica livre de todas as peias da cegueira, de qualquer servidão, dado que não está sob o jugo do egoísmo. É o império da graça do Senhor como Jesus proclamou na Sinagoga de Nazaré. Na globalidade da ação libertadora de Jesus nada que se passa neste mundo se torna, então, sem sentido e está incluído no seu plano de salvação. Tudo tem um significado à luz do projeto divino, tudo é teologicamente importante. Foi por isto que Cristo desceu a pormenores de sua atividade salvadora neste mundo conforme profetizara Isaías (Is 61,1). Todas estas reflexões devem levar o cristão a se examinar se deixou de ser pobre, estando rico das graças divinas; para anunciar aos carentes a boa-nova da salvação, para libertar os cativos dos vícios, para curar a cegueira espiritual dos que não enxergam a luz divina, para oferecer total libertação aos oprimidos. Então, sim, se dará uma maravilhosa transformação da sociedade, pois notável será o empenho de cada um em romper com as situações que não condizem com a mensagem libertadora de Jesus. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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