segunda-feira, 12 de abril de 2010

A FÉ NO FILHO DE DEUS

A FÉ NO FILHO DE DEUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
São João deixou claro que “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). A fé em Cristo não deve ser algo esporádico, intermitente, mas sim um estado de espírito que impregne, ininterrupta e inteiramente, todo o ser. Trata-se de uma identificação total com o divino Mestre através da adesão integral a Ele. Deste modo o cristão se torna uma fé encarnada. Esta se manifesta não apenas nos momentos de preces, mas em cada ato, cada gesto, até num sorriso, dado que toda a existência cristã deve ser um hino de adoração, uma oferenda, uma prece. Devemos oferecer a Deus e ao próximo não o que temos, mas o que somos. Eis aí a maior necessidade do mundo, ou seja, que haja por toda parte seguidores de Jesus que iluminem as trevas desta terra com a luz de uma fé irradiante, que brota do íntimo do coração. Isto apesar de certa obscuridade inata na busca de Deus, uma vez que, no ato de fé, há luminosidade suficiente para que a inteligência possa aderir ao Ser Supremo e a tudo que ele revelou, mas também certa penumbra, para que, em crendo, haja merecimento. Apenas no céu se verá a Deus como Ele é. São Paulo bem explicou esta verdade: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido” (1 Cor 13,12). Eis por que nesta terra a fé deve ser viva e pessoal. Daí a importância da oração contemplativa que provoca contínua reativação da luz da fé, tornando, deste modo, cada vez mais vivas para cada um as verdades reveladas. Cumpre ao cristão tomar consciência da relação entre o mistério da redenção e sua vida. Não se trata somente de aderir à revelação universal da salvação, mas de perceber que esta salvação é salvação individual, que atinge diretamente a existência concreta do fiel. Eis a razão pela qual a elevação da alma a Deus na meditação dos mistérios revelados personaliza a fé, pois, como disse São João, o que nele crer, este tem a vida eterna. Davi dizia a Deus no salmo 118: “Sobre os vossos preceitos meditarei, e considerarei vossos caminhos” (Sl 118,15). Os valores percebidos e captados nesta consideração se convertem nas motivações principais da existência e de qualquer ação. Fé significa que o batizado acolhe a palavra de Deus como princípio e fundamento de sua vida e permanece enraizado nela pela fidelidade e pelo amor. Donde resultar a consciência cristã que impregna o modo de ser do discípulo de Cristo, ou seja, a cristianização total como aconteceu com o Apóstolo que afirmava: “O meu viver é Cristo” (Fl 1,21). Tudo isto leva o cristão à sua plena realização, porque a fé tem uma força auto-estruturadora em todas as dimensões essenciais de sua pessoa. Um robustecimento do que dentro de cada um há de melhor. Leva a uma leitura na trama dos acontecimentos sobre qual é o plano de Deus , interpretando sempre o sentido religioso de tudo que acontece no dia a dia. Donde uma existência-sinal que comprova nos menores atos a mensagem que é vivida e anunciada. É que pela fé participamos do conhecimento de Deus, de Sua luz, de Sua sabedoria, de Sua ciência, de Seu espírito, de Sua vida. De fato, São Paulo representa a ação de Cristo sobre os que crêem como uma iluminação: “Outrora não éreis senão trevas; mas agora sois luz no Senhor e assim procedei como filhos da luz (Ef 5,8). Aproximar-se de Cristo é ser iluminado por Ele. Desta maneira a fé é um foco de vivíssima luz, que põe ao alcance do conhecimento humano o horizonte da vida sobrenatural, as belezas da graça, os segredos da santidade. A inteligência humana muitas vezes se engana, vacila, anda como em trevas, mas a fé é segura, não engana, previne contra os perigos, os escolhos. O entendimento informado pela fé pode discernir em tudo entre o bem e o mal, entre o nocivo e o útil, entre o tempo e a eternidade. Razão, portanto, tem São João: quem crê em Cristo, tem a vida eterna. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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