segunda-feira, 8 de março de 2010

O SENTIDO DA CONVERSÃO QUARESMAL

O SENTIDO DA CONVERSÃO QUARESMAL
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Pilatos tinha assassinado alguns galileus, ou seja, moradores da Galiléia, região da Palestina em que Cristo pregou grande parte de sua doutrina. Vieram detalhar a ocorrência a Jesus que se serviu do fato para mostrar que aqueles mortos não eram mais pecadores do que outros galileus. Acrescentou o episódio dos que haviam morrido quando do desmoronamento da torre de Siloé, dizendo que eles não eram mais culpados do que todos outros moradores de Jerusalém. Tirou, entretanto, destes acontecimentos uma grande lição. Claríssimas suas palavras: “Se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo” (Lc 13,3-6). No decorrer da existência humana há acontecimentos catastróficos. Estes não denotam, de si, que as vítimas são mais pecadoras do que os outros, mas os que sobrevivem devem se converter para uma vida melhor, construindo a própria história nas sendas do bem e da virtude para que, se acontecer um desastre, a morte os encontre em condição de entrar na vida eterna venturosa. Aliás, Jesus, em outra passagem do Evangelho, alertou: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está perto” (Mt 4,17). É preciso, portanto, que se atine o verdadeiro sentido da conversão. Esta significa a renovação da maneira de pensar e de agir. Esta atitude exige esforços, pois se trata de uma busca constante de semelhança com Cristo. O referencial se torna a sua doutrina que deve ser, inteiramente, vivida pelo seu seguidor. Para isto, cumpre uma disciplina severa que resguarde o cristão de todo e qualquer pecado. O aspecto combativo da vida do discípulo de Cristo contra o mal supõe então o emprego das armas da prece, da mortificação e da misericórdia. Qualquer oração e as privações penitenciais se tornam, realmente, inúteis se não há um esforço no que tange à caridade para como próximo, sobretudo com os próximos mais próximos que são aqueles com os quais se convive sob o mesmo teto. A conversão exigida por Jesus supõe ainda mais pontualidade no cumprimento dos deveres cotidianos, a privação de todo e qualquer comentário ácido com relação à vida dos outros. Corte corajoso de todos os programas da mídia ou da Internet abertamente contrários aos mandamentos da lei divina. No silêncio de uma prece pessoal o Espírito Santo vai mostrando a cada um o que é preciso melhorar na sua vida cristã. Para entrar na lógica da Ressurreição gloriosa, Jesus conheceu sua Paixão e Morte sobre a Cruz. É necessário percorrer o mesmo caminho. Para isto é preciso permitir a entrada do Espírito de Deus dentro do coração humano, mediante Cristo, determinando assim uma renovação pela qual o homem sente, pensa e age de acordo com vontade de Deus. Ao invés da lei dos instintos egoístas, surge o império da aceitação das tribulações inerentes a um exílio as quais purificam e ajudam na conversão pessoal e levam à busca da salvação dos outros. A unidade entre querer o bem e praticá-lo é recomposta. A tragédia interior de cada um é superada. Com isto as relações sociais são refeitas e passa a imperar a solidariedade. Para que tudo isto aconteça é necessário a escuta ainda mais atenta da Palavra de Deus para se poder entrar na vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. É a abertura do coração à ação da graça divina. Trata-se da retidão e sinceridade do cristão que foge da ostentação, da hipocrisia, da superficialidade e da baixa-estima. Aflora, deste modo, a pureza de intenção numa intimidade ainda maior com o Pai celeste, o que possibilita a completa renovação interior que resulta na vitória cabal contra o mal. Então cada um compreende que a vida não tem valor senão pelos pensamentos nobres e sentimentos elevados que nela pomos. Conversão se torna, deste modo, o triunfo sobre a indiferença e inatenção no que tange a busca da perfeição, da própria santificação. Aniquila-se deste modo a mediocridade, fazendo decair a indolência. Cresce a magnanimidade envolta numa profunda religiosidade. Fica o batizado ligado em cada um de seus instantes fugitivos à Realidade eterna que o sobrenaturaliza. Importante, portanto, o período quaresmal, durante o qual se dá um maior esforço para atender a ordem de Cristo: “Sede perfeitos como o Pai celestial é perfeito”.(Mt 5,48). Belo ideal de vida que conduz à conquista da ventura perene junto de Deus, dado que se trata de valorizar o tempo em função da eternidade. * Professor durante 40 anos no Seminário de Mariana - MG

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