O PROTETOR DA GARGANTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Médico hábil e cristão virtuoso, por livre escolha do povo, Brás foi feito Bispo de Sebaste, na Armênia. Pouco tempo, porém, durou o seu governo, pois, inspirado por Deus, deixou a sede episcopal para refugiar-se em uma montanha solitária, onde tinha por companheiros os animais selvagens que, em grupos, vinham cercá-lo, fazendo-lhe festas. Encontrado em seu deserto por pagãos, que ficaram admirados de vê-lo rodeado de leões, tigres, ursos e lobos, tratando-os com bondade e mansidão, foi trazido à presença do Governador. Submetido a um interrogatório minucioso, é intimado a renegar a Cristo e adorar os deuses. Mas ameaças não o atemorizaram. Confessou a sua fé na divindade de Jesus Cristo. Os algozes o cobriram de golpes e o atiraram na prisão, onde curou um menino, prestes a morrer com uma espinha na garganta. Alguns dias depois, compareceu novamente perante o tribunal. Repetiu-se a mesma cena. Amarraram-no a um cavalete e rasgaram-lhe as carnes com pentes de ferro. Sangrando, diz ao tirano: “O céu já se avizinha; desprezo todas as coisas deste mundo; rio-me de vós e de vossos suplícios. Estes tormentos não durarão senão um instante, enquanto que a recompensa será eterna”. Atirado a um lago próximo para morrer afogado, faz o sinal da cruz e andou sobre as águas. O Governador decretou a pena capital: Brás foi degolado.
Grandes lições da vida de São Brás, além de sua fidelidade a Deus é o cultivar o dom da ciência e valorizar a ação dos santos protetores em diversas circunstâncias específicas da vida humana.
Quando se estuda a vida dos Santos, como São Braz, São Francisco de Assis e outros, há um aspecto que merece especial atenção: a capacidade de relacionar as criaturas com o Senhor do universo, numa compreensão à luz divina, do que existe. É o Dom da Ciência que proporciona esta articulação, imergindo sempre o homem em Deus. Em pleno Areópago de Atenas, São Paulo proclama: “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo ele o Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos pelos homens... nele vivemos e nos movemos e existimos”. São Francisco de Assis, diante das belezas da natureza, pensava, instantaneamente, no Criador. A este santo a imponência dos rochedos lembrava o Todo-Poderoso; as flores, os riachos, o sol, a lua recordavam-lhe a bondade e a sabedoria imensa do Altíssimo. Tudo era pretexto para se elevar até o Grande Arquiteto do Cosmos, pois tudo dele é um reflexo. Como foi dito, São Braz tinha tanta empatia com os animais, que ele amava comocriaturas de Deus, que, mesmo os mais bravios, dele se aproximavam como se fossem mansos e não selvagens. Martinez fala de São João da Cruz que deixou esta expressiva estrofe referente à divindade: “Mil graças derramando, / passou por estes bosques com presteza, / e tendo-os olhado, / com sua simples figura / deixou-os vestidos de sua beleza”. Comenta em seguida: “Com magnífica figura poética, São João apresenta Deus que vai passando, vai passando pelo espaço, vai passando pelo universo, e ao ir passando vai derramando suas graças, e ao refletir-se sua divina figura nas coisas criadas, vai revestindo-as de luz”. Neste místico se realizou o que diz o Livro da Sabedoria: “Deus conduziu o justo pelos caminhos retos e lhe mostrou o Reino de Deus e lhe comunicou a ciência dos santos”, bem como o que o Apóstolo das gentes preconizou ao declarar aos Colossenses que rezava por eles, para que andassem “dum modo digno de Deus, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo na ciência de Deus”. Isto deve ser uma meta, pois Isaías vaticinou o reino universal e pacífico do Messias, quando “a terra estará cheia da ciência do Senhor”. É na medida em que cada seguidor do Filho de Deus se enche desta iluminação do Espírito Santo que o mundo se metamorfoseia. Se o Dom da Ciência faz referir tudo ao Ser Supremo, transforma, por isto mesmo, o que existe em degraus de maravilhosa escada que conduz ao infinito. É esta sensibilidade que falta ao mundo de hoje e os transtornos causados ao planeta terra são conseqüência desta cegueira de muitos que não contemplam as maravilhas que Deus esmou universo todo. O salmista já advertia: “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” ( Sl 18,2). Note-se ainda que, quando os amigos de Jó se arrependeram, Deus lhes disse: “Meu servo Jó intercederá por vós (Jó 42,8). Em atenção a prece de Jó eles foram perdoados. Ora se um justo do antigo Testamento tinha tanto poder junto de Deus, que se dirá dos justos da Nova Aliança, servos fiéis de Cristo, como São Braz no que tange aos males da garganta de qualquer outra doença. Isto com tanto maior certeza quando solicitado pela Bênção oficial da Igreja que são sacramentais valiosíssimos. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
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