sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

AS LIÇÕES DE MARTA

AS LIÇÕES DE MARTA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O diálogo entre Marta e Jesus traz à baila uma das verdades bíblicas mais faustosas que deve merecer especial atenção em nossos dias, tendo em vista a problemática contemporânea, que é, sem dúvida, a ressurreição dos mortos. Jesus não deixou margem de dúvidas a seus epígonos. Acabamos de escutar no Evangelhod e hoje: Eu sou a ressurreiçção e a vida. Quem cr~e em Mim, mesmo que morra, viverá . E todo aquel que vive e crê em mim não morrerá jamais”.Asseverou também em outra ocasião: “Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 40). O apóstolo Paulo apreendeu magnificamente esta doutrina e ensinou aos coríntios: “A morte tendo vindo por um homem, é por um homem também que vem a ressurreição dos mortos” (1 Cor 15,21). Diante desta realidade sublime cumpre a todo cristão, seja qual for o grau de sua espiritualidade, aprofundar sua reflexão sobre a grandeza do projeto de Deus e a concomitante seriedade da vida humana. Sendo a trajetória terrena a via para os eventos escatológicos, isto é, acontecimentos que se darão no fim da História deste mundo, a maneira como se comporta o ser racional nesta caminhada terá conseqüências irrevogáveis. Trata-se de um destino eterno ou na felicidade junto de Deus, ou na desgraça suprema longe do Criador. Eis as palavras claras de Cristo com relação ao que os justos ouvirão no julgamento derradeiro: “Vinde, benditos de meu Pai, recebi por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo” (Mt 25,34). Os maus escutarão o seguinte: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos” (Mt 25,41). Portanto, a trajetória de cada um nesta vida é decisiva e marcará o momento da ressurreição futura. É que a amizade com Deus nesta terra se consumará então num momento de glória ou de desventura perene, dependendo da resposta existencial de cada um, isto é, aceitação ou recusa de Deus, que nunca se impõe. A crença firme na ressurreição leva deste modo o cristão a estar consciente de que é necessário o “aproveitamento do tempo presente” (Ef 5,16), rejeitando todo fardo e o pecado que afasta de um final feliz, correndo cada fiel na corrida que lhe é proposta, fixando os olhos no autor de sua fé, Jesus, para que a leve à perfeição (Hb 12,1-2). A Carta aos Hebreus nos adverte: “Nós não temos aqui no mundo cidade permanente, mas procuramos aquela do futuro” (Hb 13,14). Eis por que o cristão se esforça por alcançar a pátria verdadeira com uma vida digna (Hb 11,4), lá onde estará para sempre com o Senhor Jesus (1 Ts 4,17). Neste iníco de milênio no qual tudo atrai para a fugacidade do que é ilusório, apartando a tantos dos princípios evangélicos, refletir profundamente no destino final do ser racional é um meio decisivo para degustar, já na terra, uma porção da felicidade eterna. Ressoe sempre a advertência de Cristo: “Com efeito, que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele se perder ou arruinar a si mesmo”? (Lc 9,25). A solenidade de Santa Marta leva a cada um de nós ao fundamento de todas estas verdades. Com efeito, tal a magnífica profissão de fé desta santa admirável: “ Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”. Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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