quarta-feira, 17 de junho de 2009

A DIETÉTICA E A PESSOA HUMANA

A DIETÉTICA E A PESSOA HUMANA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Há uma estreita vinculação entre a dietética e a pessoa humana. Correlação entre o regime alimentar e a atividade espiritual. Certos aforismos da medicina revelam uma verdade que mostra esta realidade: “O médico é, por profissão e por estado, o guarda da alma de seu cliente”.
É sintomático que todas as religiões prescrevam regras alimentares.
O jejum é, em geral, visto como um propiciador de maior contato com a divindade.
A constituição psicossomática do homem faz com que o fator alimentício seja objeto de especial atenção, podendo ficar seriamente comprometida a vida do espírito, não apenas enquanto certos desregramentos violam diretamente a ordem ética, como também o bom funcionamento fisiológico pode ser atingido por uma subalimentação ou um modo de se alimentar defeituoso, nocivo. O otimismo, a esperança, a alegria de viver, a prudência são também frutos opimos de uma bem balanceada alimentação, pois o equilíbrio harmonioso de todas as complexas e delicadas atividades orgânicas disto resulta. Eis porque uma mentalização de princípios salutares se impõe.
A individualidade, a personalidade, o meio interior humoral dependem também dos alimentos diários que apresentam os ingredientes indispensáveis às moléculas e às células, à reparação dos órgãos, ao calor, à energia física e mental sobretudo até os vinte anos.
A saúde corporal, a estabilidade moral e a lucidez psíquica se ligam, assim, ao método nutricional. Este influencia o desenvolvimento das faculdades que fazem essencialmente o valor de um homem. favorece o vigor íntimo, robustece a vontade, ilumina o julgamento, roboriza a memória e reflete até na moralidade.
Por força dos dizeres de Descartes, se separou o natural e o mental a tal ponto que de um lado se passou a considerar as funções superiores, espirituais, dissociadas das inferiores, corpóreas. Estas fazendo do homem um animal e aquelas constituindo-o um ser racional.
O homem, porém, não é um anjo que habita uma casa em ruínas. Não é apenas matéria, nem só alma.
Há dois conceitos que não se podem dissociar: indivíduo e pessoa. O homem é um indivíduo que é pessoa. Se, porém, toda pessoa é indivíduo, nem todo indivíduo é pessoa. Boécio exarou uma definição de pessoa humana que se tornou clássica. Esta “é uma substância indivídua de natureza racional”. Indivíduo é um ser individido em si e dividido dos demais seres. No caso do homem sua individualidade está marcada com a racionalidade. Donde advém ser o homem uma substância espiritual na carne: matéria e espírito constituem as suas raízes ontológicas. Há uma união substancial entre a alma e o corpo. Daí a interdependência do físico e do mental. Há sentimentos humanos que agem sobre o organismo, intoxicando-o; outros têm uma notável influência na harmonia das funções orgânicas, no desenvolvimento da saúde corporal e até na longevidade. Os primeiros são os sentimentos depressivos, que derivam do medo, da ansiedade, da angústia, ou violentos, que fluem sobretudo da ira em momentos de cólera. Os últimos jorram da alegria de viver que se manifesta na serenidade, no entusiasmo, na eutimia completa. Eis aí exemplos frisantes da mente refletindo no físico. O inverso é verídico: doenças infecciosas, agudas ou crônicas, podem desencadear um estado nervoso anormal de curta ou longa duração.
Para o autêntico filósofo, como para o lídimo cientista a unidade do homem é algo incontestável com fundas repercussões na formação de cada um.
Uma outra faceta importante que, de fato, realça o laço que existe entre a alimentação e a espiritualidade é o fato de que as religiões de todos os tempos se preocupam com esta questão.
O Budismo e o Bramanismo interditaram o uso da carne. Os judeus tinham prescrições precisas sobre a alimentação e a Bíblia as registra. Os discípulos de Maomé são proibidos de consumir certos tipos de carne, sobretudo a de porco. O Cristianismo sempre viu na abstinência um meio de elevação espiritual e moral que ajuda a pessoa humana a se realizar em plenitude.
* Professsor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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