terça-feira, 7 de abril de 2009

A CRUZ DE JESUS

A CRUZ DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
É impossível chegar à glória da ressurreição sem passar pelo Calvário(Lc 14,26). Eis por que São Paulo, o teólogo da presença da cruz de Cristo na vida cristã, dizia : “Nós, porém, pregamos Cristo crucificado” (1 Cor 1,23). É que a cruz libertou o homem do pecado e da morte, estabelecendo definitivamente a Nova Aliança de Deus com a humanidade.O cristão é então aquele que vive como quem, no batismo, foi “crucificado com Cristo” (Gl 2,19 e ss;5,24;Rm 6,1-11;Col 2,11 ss). Isto significa que o discípulo do Salvador está morto para o pecado que impede amar a Deus e aos irmãos , aceitando com paciência as tribulações da trajetória neste mundo. A paz, a beatitude interior que fluem do Senhor ressuscitado só são possíveis para quem abraça amorosamente a cruz redentora. Os grandes santos atingiram a culminância de uma existência autenticamente evangélica por terem penetrado a espiritualidade da cruz. Atingiram deste modo a maturidade cristã, aquela perfeição proposta por Jesus: “ Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48),ou seja, num esforço penoso, contínuo, buscaram se assemelhar ao Deus três vezes santo.Nos primeiro séculos do cristianismo os escritos dos teólogos revelam como a cruz é um instrumento da obra salvífica e a comparam com a árvore da vida do paraíso terrestre, com a arca de Noé, com a lenha do sacrifício que Isaac levou ao monte Moriá, com a escada de Jacó, com a vara de Moisés, com a serpente de bronze, a vara de Aarão reverdecendo no mesmo dia e revelando o sacerdote legítimo. Belíssimas imagens tiradas do Antigo Testamento. Policarpo, Ireneu e Orígenes, entre outros, desenvolveram magníficas considerações a partir destas analogias. Depois da conversão de Constantino a cruz surgiu como símbolo oficial do império e se tornou ainda mais um estímulo para que os fiéis se sacrificassem pela causa do Evangelho e por seus irmãos na fé. Tocantes as homilias de João Crisóstomo, Ambrósio, Agostinho e muitos outros a exaltarem o papel da morte de Jesus na existência do crente. Na Idade Média grandes teólogos aprofundaram ainda mais o sentido da paixão de Cristo crucificado e notáveis os textos de Gregório Magno; Beda, o venerável; Tomás de Aquino; Bernardo; Boaventura. As comunidades religiosas medievais experimentaram, como havia ocorrido anteriormente, grande crescimento espiritual ao cultuarem a cruz salvadora. A espiritualidade da cruz também neste período da História, tornou suportável todos os sofrimentos e produziu multidão de santos. É o carisma do sofrimento que promanou um dia do Calvário. Na Idade Moderna e Contemporânea prosseguiu esta união dos fiéis com Jesus sofredor, acentuando-se, sobretudo depois de Vicente de Paulo a visão de Cristo a sofrer nos pobres e desamparados, nos membros padecentes do Corpo Místico. Teólogos hodiernos, sobretudo na Alemanha, estão a acentuar esta pedagogia da cruz, mostrando que ela é “a manifestação eminente de Deus e revela o modo como se pode tornar operante a ressurreição na vida terrena do cristão”. Cumpre de fato ao batizado olhar sempre para Cristo crucificado a fim de compartilhar a fidelidade e a caridade de Jesus, Ele “que nos amou e se entregou por nós a Deus como oblação e sacrifício de agradável odor (Ef.5,2). Saibamos valorizar este tesouro de graças que é a preciosíssima cruz de Jesus. Ela é a árvore geradora da vida da graça. É farol por entre as tribulações da existência. É a chave do céu. Foi por ela que Cristo derrotou o inimigo do gênero humano e sanou as chagas do pecado. Imitemos o apóstolo Paulo que podia asseverar: “Quanto a mim não quero gloriar-me a nào ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”(Gl 6,l4). Cumpre, porém, não apenas venerar e exaltar a cruz que contemplamos aqui no Gólgota , mas é mister evangelizar com palavras e obras, com o testemunho de vida, “para que não se torne inútil a cruz de Cristo”(1 Cor l,17). É necessário, além disto, estar crucificado com Cristo (Gl 2l,19), ou seja, morto para o pecado e para tudo que o mundo oferece e que contradiz o que o Mestre divino ensinou, fugindo de tudo que é vergonhoso para o cristão e apartando os pensamentos do que está sobre a terra. Do contrário se estará entrando no rol dos “inimigos da cruz de Cristo (Fl 3,18). São Cirilo de Jerusalém nos apostrofa: “ Jesus foi crucificado em teu favor, Ele não pecara; e tu, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi pregado na cruz? Não estarás fazendo um favor; primeiro recebeste. E mostras gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota”. É que na cruz nos revestimos de Cristo e nos despojamos do velho homem numa valorização de tanto sofrimento, mostrando-nos assim agradecidos pelo grande benefício recebido. Aceitar a cruz de Jesus é uma grande sensatez. * Professor no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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