quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A SABEDORIA DE JESUS\

A SABEDORIA DE JESUS
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Registrou o evangelista Marcos que “Jesus foi a Nazaré, sua terra” (Mc 6,1) e muitos que o escutavam ficavam admirados e diziam: “Como conseguiu tanta sabedoria?” De fato, é penetrando fundo nas suas palavras registradas por aqueles que o viram e ouviram é que se pode aquilatar a amplitude dos conhecimentos do célebre Rabi da Galiléia. Ele falou do tempo e da eternidade, das realidades terrenas e sobrenaturais com rara inteligência. Desvendou o porvir para toda a humanidade. Nada lhe era desconhecido. Discorreu sobre os maiores mistérios como se os tivesse diante dos olhos. Percebia inclusive o que se passava no mais íntimo dos corações de seus interlocutores e lia o pensamento de seus gratuitos inimigos. Mais do que ciência ele possuía onisciência, pois era realmente onissapiente. Pedagogo extraordinário seu método de ensinar era inigualável. Demonstrava sempre uma calma impressionante e uma segurança sobre-humana. Não se percebe no seu falar nenhuma titubeação, nem vacilo, nem receios, mesmo quando aborda temas que ultrapassam de muito a capacidade humana, usando, contudo, uma linguagem acessível. Usou as galas e louçainhas de estilo em função da difusão da Boa Nova, enriquecida com alindamentos literários. Empregou tropos fascinantes para ilustrar sua pregação e narrou parábolas maravilhosas, enriquecidas com inúmeras imagens agrárias, como as metáforas dos lírios dos campos, das aves, dos trigais , e locupletadas com comparações hauridas de várias atividades humanas, referindo-se aos administradores, aos juizes, aos médicos. É a arte de idealizar o concreto e concretizar o abstrato. Surpreende sua presença de espírito e a grandeza de seu engenho. Prova disto é quando lhe perguntam se era lícito ou não pagar o tributo ao Império Romano. Se ele dissesse que sim os judeus ficariam ainda mais contra Ele. Se falasse que não os romanos teriam motivos para o perseguir como subversivo. Que fez Ele? Pediu a moeda do tributo e indagou de quem era a efígie da mesma e lhe responderam que era de César. Aí sua célebre frase que vem atravessando os séculos: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Sua ciência lhe era conatural, ao contrário dos sábios deste mundo que conseguem seu saber através de tanto esforço, penosos trabalhos intelectuais. Espalhava como jóias preciosas os eflúvios de sua sapiência. Eis por que passam os séculos e o que Ele doutrinou permanece com seu original fulgor. A originalidade caracteriza seus ensinamentos, dado que Ele ofereceu fundamento filosófico e teológico ao que pregava, como aconteceu, por exemplo, quando ordenou o perdão dos inimigos. Com efeito, os mestres antigos que também preconizaram tão atitude não ofereceram a razão última desta anistia ao próximo. Jesus, entretanto, alicerçou o princípio: "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará" (Mt 6,14). A fonte de seu saber era sua divindade, dado que ele é a Sabedoria Eterna em pessoa. Superou deste modo todos os sábios antigos e seus coetâneos exclamavam embevecidos: “Jamais homem algum falou como este homem!" (Jo 7,46) Manancial de toda sapiência Ele podia afirmar: "Se alguém tiver sede, venha a mim e beba" (Jo 7,37). Deste modo prometeu a seus seguidores: "Eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários" (Lc 21,15). Santo Agostinho proclamava então: “Nossa ciência é Cristo, nossa sabedoria é também Cristo”. Fazia o douto Mestre de Hipona eco às palavras de São Paulo a respeito de Jesus: "Nele estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência" (Cl 2,3). Nada, portanto, mais necessário do que se impregnar da doutrina daquele que é em plenitude o Sábio dos sábios, lembrando-se cada um, porém, que o Senhor concede sabedoria somente àqueles que vivem com piedade (Eclo 43,37) e no respeito a seu santo nome (Eclo 21,13). Professor. no Seminário de Mariana de 1967 a 2008.

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