A RESSURREIÇÃO E A VIDA
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Ressurreição de Lázaro é o último milagre realizado por Jesus antes do início de sua Paixão (Jo 11,1-45). Ele voltou novamente à Judéia, a três quilômetros a leste de Jerusalém, para salvar seu amigo Lázaro. Patenteou, antes de sua própria morte, que viera ao mundo para resgatar os homens do pecado e de todas as consequencias do pecado. Ele, ainda uma vez, quis demonstrar que grande era a afeição do Pai que detesta a morte e que deseja a vida. Realidade esta que encontrará sua prova decisiva no dia da Páscoa, quando se deu definitivamente a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o pecado. Cristo era o mensageiro sublime da enorme dileção de Deus para com a humanidade prevaricadora. Na trajetória por este mundo o ser racional depara com a morte, não apenas enquanto a cada minuto dela inexoravelmente se aproxima, mas também diante do desaparecimento de parentes, amigos, entes queridos, que deixam após si um rastro de lembranças, de tristeza, de imensa saudade. A morte é um acontecimento inelutável, inescapável. Ante a morte, porém, surge o poder decisivo de Deus. Foi o que sentia Marta ao afirmar a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to concederá”. Amigo de Lázaro e de suas irmãs, Cristo também partilhava de suas dores. No entanto Ele, que poderia ter vindo antes, chega propositadamente depois do falecimento de quem tanto prezava. É que Ele, embora humano, só se deixava conduzir pela vontade do Pai. Esperou que Lázaro morresse porque Ele não viera simplesmente afastar a amargura e o luto, mas transformar estes sofrimentos e esta morte numa mensagem gloriosa, prenúncio de seu notável triunfo após a tragédia do Calvário. A raiz do pecado é a morte, como bem declarou São Paulo: “Por um só homem o pecado entrou no mundo e pelo pecado veio a morte; deste modo a morte passou para todos os homens pelo fato de que todos pecaram” (Rm 5,12). Ora, apenas Jesus demonstrara o poder de perdoar os pecados e dera provas de que tinha também capacidade de trazer à vida os que haviam morrido. Eis aí a grande exclusividade da fé cristã. Pela afirmação audaciosa perante o acontecimento que mais aflige o ser humano “Eu sou a ressurreição e a vida”, sentença logo confirmada pela ressurreição de Lázaro, Cristo apresenta a resposta ao drama causado pela transgressão do Paraíso. Acrescenta algo mais: “Quem crê em mim, mesmo que morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais”. Jesus não fala aqui da vida sobre a terra, sobre a existência meramente biológica, mas da vida divina. Todos os domingos, como em Betânia aconteceu com Marta, ele indaga a cada cristão: “Crês isto”? Quem acredita não pode então levar uma vida sem amor, sem esperança, sem uma alegria partilhada com os irmãos. A vida do cristão deve estar plena do sentido da ressurreição, de vida, de júbilo. É deste modo que se ilustra a resposta que se deve dar a Cristo: “Eu creio firmemente, Senhor, pois tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”. O império de Jesus sobre a morte é uma fagueira promessa de vida. Aliás, sua própria ressurreição ostentou que Ele era o primogênito de uma multidão de irmãos a cantarem o hino festivo da vitória, prenunciada inclusive pela ordem que dera a seu falecido amigo: “Lázaro, vem para fora”. Que espetáculo glorioso: “O morto saiu, atado de mãos e pés, com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano”. Confirmava-se o que Ele havia dito: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ali estava o Senhor Todo-Poderoso que perante a fé dos que nele acreditavam tirava do túmulo quem lá jazia nas trevas da morte. Toda a existência de quem foi batizado deve sempre colocá-lo perante a esperança da ressurreição, vivida na aventura da fé que flui do senhorio absoluto do Filho de Deus. Nele, de fato, não se deve contemplar apenas o Rabi da Galiléia, Mestre admirável, mas também o poderoso Senhor no qual se pode inteiramente confiar. É preciso abrir os olhos e viver integralmente em função de quem realmente tem a resposta para todas as rescrescentes aspirações humanas. Um abandono total Àquele que ininterruptamente demonstrou um amor desinteressado pelos que sofrem, ostentando a solicitude de um benfeitor familiar, Pastor desvelado atento às necessidades de suas ovelhas. Isto é uma importante dimensão do crer e esperar nele. Embora vivendo num vale de lágrimas nada deve quebrar os laços entre Cristo e aquele que ele ama e do qual solicitamente cuida. Jesus, antes de ressuscitar a Lázaro, chorou, patenteando a ternura de seu coração. O liame de amizade entre Ele e o cristão é algo essencial. A indefectível amizade de Jesus é que permite ao que nele crê caminhar sem desfalecimentos pelas estradas da vida. Um autêntico repouso na confiança em Cristo é uma delicadeza para com Ele. Então maravilhas acontecem em derredor de seus amigos, como ocorreu, um dia, lá em Betânia. * Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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Olá, achei seu blog por acaso quando procurava para material de estudo sobre teologia, patrística, iconografia, epigrafia, arqueologia bíblica, etc.
ResponderExcluirE acredito que você possa se interessar por esses blogs
http://patristicabrasil.blogspot.com/, história e patrística da igreja do século I ao VIII, todo em português.
http://iconografiascristas.blogspot.com/, Ícones antigos da igreja.
http://angelusexverum.blogspot.com, que pretende comprovar verdades da Igreja a partir de achados arqueológicos.
Conheça a história da sua igreja para saber a razoes de sua fé.
Divulguem para que outros possam aproveitar.
Excelente artigo,
ResponderExcluirJesus está VIVO, e cuida de nós!
Olá,
ResponderExcluirPor que o Sr tem o semblante tão fechado? Parece ser bom, mas é cara fechada!